29 dezembro 2011

Minhas memórias

Minhas memórias não são confiáveis. Quando cito nomes, eles são verdadeiros, quando descrevo personagens, eles são reais, existiram um dia,  porém, os fatos relatados podem ser apenas embustes da lembrança, cenas que se modificam a cada acesso. Poderia dizer que minha memória se parece com uma cômoda gigante quadrimensional, com gavetas que eu posso abrir, vasculhar para encontrar informações que preciso. Nelas, quando procuro o que eu quero encontro o que não quero. São armadilhas, tem laterais e fundos falsos que se abrem aleatoriamente, misturam  o que já estava separado com o que eu não quero saber. Assim são minhas  lembranças: pura ficção. 
Minha ficção, entretanto, fala mais de mim do que minhas memórias: a dentadura de meu pai escapando da boca ao me dar um beijo de boa noite, o corset de renda, cheio de ganchos nas costas que minha mãe usava em dias de festa, o cheiro da cama deles e o rádio ligado  de manhã. A bandeja na cama e o barulho do meu pai tomando café pelando, a morte de minha avó Dina, o casamento do meu padrinho, as missas aos domingos. 
Minhas tias e tios que eram velhos e tinham sotaques, contavam casos, discutiam. Às vezes tinham paciência comigo, às vezes eu sabia que estava atrapalhando e ficava emburrada no canto. Da rejeição ao amor extremo, assim cresci no meio de adultos quase normais, estranhos às vezes, fascinantes sempre. Entre salas de visitas e quintais, festas e funerais, fui catando conchinhas de relatos, pescando nesgas de sentimentos e tentando entender quem eram meus pais, os pais deles e os pais dos pais deles.
Quero saber quem sou eu no meio dessa avenida por onde tenho desfilado com certa galhardia? Além do DNA, o que me fez ser quem eu sou? 


14 dezembro 2011

Ballade

alento no fim de um dia pesado
abraço
cigarro, whiskey, a brisa na noite de verão
banho morno
água no rosto, janela aberta
roupa velha de algodão





quando eu morrer
me embalem com Ballade
quero quem me quis
ouvindo comigo
quero que saibam que fui feliz

29 novembro 2011

Carta de Solange Arruda recebida em 29/11/11

" Passei a tarde no parque lendo
Um traço, Um Ponto,  Um Poema, Um Conto, de Sandra Schamas, até o fim.
Gostei dele ao abri-lo.
Não era cheio de letrinhas espremidas.
Tinha vazios, desenhos.
Dava vontade de ler.
Não senti preguiça.
Chorei.
Chorei muito.
De emoção.
De saudades da minha vida, tão intensa.
Dos meus casamentos bem sucedidos, mas que se acabaram.
Depois sorri.
Tomei um café e voltei para casa.
Inspirada.
A chuva caiu.
Uma boa chuva de verão.
Amei!"

Meu livro tão singelo, que para alguns nem é um livro, para outros poderia ter sido feito por qualquer um! Sim, claro, poderia ter sido feito por qualquer um, só que foi feito por mim. E publicado. E exposto à críticas. E tudo mais.  Meu livro sincero emocionou Solange. Só por isso já valeu !

Obrigada So1.

25 novembro 2011

Cena de crime

A casa está vazia e escura. Na sala, vê-se o contorno do sofá e os quadros na parede parecem borrões. As cortinas pesadas abafam o som que vem da rua. O corpo, que horas antes sonambulava pela casa, agora se esvai em sangue.

A casa teve muitos donos, tinha fama de assombrada e agourenta. A poça de sangue ao lado do morto confirma a sina. Amanhece, chove, anoitece, tudo permanece intacto. No segundo amanhecer o vizinho se preocupa, toma uma atitude e quase arrebenta a campainha de tanto tocar. Pula o portão, dá a volta na casa, pé ante pé, receoso. Descobre que a porta da frente não está trancada, entra. Quando vê o corpo do amigo em início de decomposição para, em choque e passa a fazer parte do cenário estático. Alguém atira o jornal na varanda, o pobre vizinho se dá conta, tira o celular do bolso, liga para a polícia, enquanto contorna o cadáver e tenta explicar o que vê. Percebe o buraco na testa e corre vomitar no banheiro.

Vem a polícia, o resgate, a perícia, o fotógrafo, o delegado, o rabecão do IML entra e estaciona no corredor lateral. Os funcionários abrem a porta de traz do veículo, retiram o gavetão galvanizado, entram com ele na sala, depositam no chão. O homem era corpulento, tiveram dificuldade de erguê-lo enrijecido e colocá-lo no caixão.

Fica o tapete empregnado de sangue e o cheiro da morte se espalha.

O vizinho, ainda chocado, vai para casa e conta para a mulher. Mais tarde, o casal assiste ao noticiário quando o telefone toca. Era a filha pedindo dinheiro emprestado. Voltam às notícias, o telefone novamente, dessa vez o celular. Engano.

A sombra sinistra da casa ao lado se espalha, eles ficam com medo. Ouvem o portão de ferro bater, espiam pela janela. O vento apenas varre as folhas.

Amanhece, chove, anoitece, tudo permanece intacto. Mais uma casa vazia e escura. Na sala, vê-se o contorno do sofá e dois corpos se esvaem em sangue.

29 outubro 2011

as flores e o mar


Hoje acordei com a lembrança de meu pai, como se uma saudade antiga tivesse sido aplacada, como se eu estivesse cheia dos mimos e afetos da minha infância. O sonho, às vezes, faz isso, busca lá no fundo uma cena do inconsciente e traz à tona sensações.
É uma festa de família, algo importante, muitos convidados, um salão imponente de frente para o mar. Flores frescas, talheres de prata, guardanapos de linho, a responsabilidade toda minha.  Aguardo os convidados que nunca chegam, duas horas de atraso, ou mais. Aflita, vejo que o salão é grande, poucos virão, um desperdício. Vou até a porta ver o que acontece e noto que no salão ao lado há outra festa, de uma ramo da minha família que cresceu demais para se juntar ao da primeira festa. Esse salão fica mais embaixo, tenho que descer uma escada forrada de veludo vermelho, passo entre véus e cortinas leves, encontro meus primos que não vejo há anos e a mãe de todos, a avó e bisavó, irmã de meu pai.
Volto ao primeiro salão e corro abraçar meu pai que chega de terno e todo sorrisos. Vivos, mortos e crianças interagem, há muitos lugares vazios. De repente, as flores desaparecem, só fica o mar. Digo ao meu pai que a irmã dele está numa festa ao lado e vamos juntos para lá. Eles se encontram, se beijam e meu pai confessa que não gosta da sobrinha mais velha. A mesma que em vida ele sempre paparicou... eu adoreva minhas tias, eram velhas e engraçadas...
A festa cuja responsabilidade é minha não dá muito certo, foi muito gasto para pouco proveito. A festa ao lado é menor, mas está mais animada e fico feliz por ter meu pai comigo, como se nunca tivesse saído de perto de mim.
O sonho não tem desfecho, como todos os sonhos meus. Sento na cama, esfrego os olhos e recordo cada detalhe. Não preciso tentar entender, está explicado. As famílias são laboratórios, há brigas, desafetos, ciúmes, rivalidades, mas o sangue é mais grosso que a água. As pessoas se amam e o amor transcende o inconsciente, o sonho, a vida e a morte.

10 outubro 2011

Você vai a Miami?

Morei num desse 4 predios. Era lindo!
Minha afilhada fofa Caroline. Você tem que visitar:

1- Coconut Grove, é um bairro muito bonito, tem a marina com veleiros lindos, tem um centrinho Cocowalk, tem restaurantes, recomendo o Chescake Factory no andar de cima, tem bares e lanchonetes e uma GAP imperdível.

2- Visitar o Viscaya Museu, fica perto de Coconut Grove, e a casa de um milionário que tentou imitar o palácio de Versailles e hj é parque e museu.

3- South Beach -  Ocean Drive é a avenida da praia. tem um parque na Ocean Drive com a 3a. Vc pode ir à praia se quiser. Talvez seu hotel seja lá. melhor ainda. Depois, na altura da 8a., tem um lugar para comer que é o News Café, tem um pouco de tudo e fica 24 horas. Mais para cima, na 17o. que é a Licoln Road, também vale a pena passear, é um Boulevard com lojas, galerias de arte e restaurantes na rua.

4- Você pode passear no Bayside, um lugar em downtown bem para turista, se der tempo, parar lá um pouquinho e ver como é.

5- Shopping? tem vários. Para compras o melhor é o Dadeland Mall que fica na US1 perto da Kendall Dr. è o mais antigo, mais tradicional, mas tem tudo, inclusive tem as lojas de tenis, as lojas de coisas para casa, decoração, etc etc, tudo pertinho. Tem o shopping The Falls, que fica tb na US1 mais para o sul, é aberto e lindo, tb tem tudo.Esse é abertop, eu acho bem agradável.

6- Bares e baladas? Como sai de lá ja faz um tempinho, não sei o que está na moda, mas o bar mais antigo de Miami se chama Tobaco Road, fica perto de downtown e perto do Miami River, tem no google. É bar bacana de happy hour depois tem blues.

7- Em orlando tem essas lojas grandes de desconto, os tais outlets, todo mundo compra lá, só que eu não conheço bem. Veja alguem que ja foi e que indique para vcs. Em Miami tb tem  um enorme que fica a 1 hora do centro, o Sawgrass Mall, mas eu acho que Miami é uma cidade linda para vcs se enfiaram naquele fim de mundo. É muito grande e cansativo, deixem para Orlando que fora a Disney não tem muita coisa.

8- Algumas cadeias de restaurantes que são boas, como o Macarroini & Grill, comida italiana. Tem o Outback, carn,e e restaurantes brasileiros tamb. Em downtown Miami tinha o Camila's não sei se ainda tem. Mas deve ter muitos outros.As redes de restaurantes e lanchonetes que estão em shopping são boas, vc pode escolher. Só não vai no Mc Donalds, pelo amor de deus, né?

9- Das lojas de departamento, todas são boas; Macy´s, Burdine's, Bloomingdales. Bom para comprar perfumes e maquiagem porque sempre tem promoção, vc ganha uma bolsa, ou miniaturas, etc.

10- Nas lojas como GAP. Limited, Victoria Secret, Express e outras, sempre dá uma olhadinha nas araras, aqueles cabides circulares que ficam no fundo da loja,  as promoções estão lá, tem coisa até de 3,99.
 Agora a benção e um conselho de madrinha: Aproveite o máximo, o que der vontade de fazer faça. O que der vontade de comprar, compre, não regule divertimento porque isso é o bom da viagem...
Coma bem, prove coisas diferentes!

Ah, tem um drink de frutas que se chama sex in the beach...pode provar... os dois... a madrinha deixa.

Das minhas viagens, só me arrependo do que eu não fiz.

Depois quero saber tudo! se faltou algo me escreva no face, ok?
beijos minha linda.

26 setembro 2011

Murciélagos

Gosto de ir à praia em dias cinzentos quando a monotonia dos tons me traz uma paz interior. Observo a paisagem neutra,  sinto a mente esvaziar-se, como se todos os pensamentos fossem escorrendo pelo meu corpo e penetrando na areia úmida e macia. Noto um pequeno barco surgir no meio das ondas e espero que ele se aproxime. Entro na água até onde dá pé e observo o barqueiro que rema como quem sabe o que faz. “Quer vir?”, pergunta ele. Com  dificuldade, subo no barco arfando. “Vamos do outro lado ver a gruta”, explica o moreno com pele de couro. Eu concordo balançando a cabeça e torcendo o cabelo molhado.

Mal se nota a abertura da gruta. Precisamos deitar no barco e esperar uma marola para poder entrar. Depois de algumas tentativas conseguimos. Estou com medo, mas sei que vou gostar.
A pedra grosseira por fora é branca por dentro e a parte da gruta que fica no fundo do mar é aberta permitindo que a luz entre por baixo e reflita o azul da água. Encantada, me sinto dentro de uma imensa água-marinha. Ouço o som da água pingando, olho para cima e vejo alguns morcegos enfileirados, pendurados nos estalactites. Pela primeira vez gosto daquelas criaturas que mais parecem retângulos de veludo presos pelo centro. De algum modo sei que não irão me atacar.

Desço do barco agarrando-me às pedras e peço para o barqueiro esperar. Sinto-me desprotegida , tento percorrer uma espécie de trilha com muito cuidado, estou curiosa. Além do som dos pingos pingando ouço apenas a minha respiração. Busco a escuridão total, mas ela nunca acontece, sempre há uma luz que vem das águas cristalinas como se não houvesse mais nada que pudesse me surpreender. 

O breu acontece, me assusto e paro. Alguém me pergunta quem sou eu e dois olhos imensos encontram os meus. São olhos apenas. Eu não consigo ver nem sentir nenhum corpo, apenas dois olhos, ora azuis, ora verdes, que se confundem com o azul e o verde que vem da luz do fundo do mar.
A voz me diz que são os olhos da morte. mas eu sei que são os olhos do amor. Mergulho no abraço de morte e de amor por tempo indefinido. Preciso voltar.

Agarrada às pedras, percorro a trilha de volta, entro no barco onde o moreno me espera, olho para cima e admiro  os retângulos de veludo.Murciélagos”, sussurram eles, suspendo a respiração para ouvir melhor aquela o mantra sinistro e reconfortante. 

O barqueiro rema com habilidade e logo estamos de volta à praia.


19 setembro 2011

Mulheres no ônibus

Uma beirava os setenta, bela ainda, olhos azuis, cabelo prateado. Sentada no primeiro banco, encostada à janela, tinha nas mãos um envelope gigante com logotipo de laboratório. A outra, com mais de cinquenta e também com envelope enorme, pediu licença e sentou-se ao lado da primeira.

O ônibus ia sacolejando e as duas em silêncio. Verão abafado por causa do asfalto quente, reflexos de sol batendo nos vidros dos carros. A de setenta vira para a de cinquanta e diz:
- Eu tenho um problema de saúde muito sério.
- Câncer?
- Não.
- Diabetes?- pergunta a de cinquenta que acabara de saber que tinha e estava desolada.
- Pior - responde a outra com cara de velório - e completa - minha vagina colou.
- Como?
- Minha vagina colou, assim, os dois lados estão juntos... - disse a coitada juntando as mãos.
- Grudou?
- É. Grudou. Não posso mais ter relação. Meu marido reclama. Ele ainda gosta.
- Nossa!- exclama a de cinquenta sem saber o que dizer.
- É muito raro acontecer isso, mas acontece. Problema hormonal, o médico falou que só operando, mesmo assim é complicado, vou consultar mais um. Já fui em dois e não resolveu. Agora vou num que a minha cunhada me falou, lá em Santana.
- Que coisa, sinto muito. Mas acho que o carinho, o afeto, o companheirismo também são importantes, não é? Pelo menos vocês se gostam, estão juntos há muitos anos, imagino...ficam juntos vendo tevê de mãos dadas, se abraçam...
- Pois é, mas não é bem assim, não. Está difícil porque a gente gosta de sexo mesmo. A gente ainda tem desejo, mas não pode fazer direito.
- Sinto muito...

Continuaram em silêncio compartilhando aquela intimidade inesperada às três horas da tarde. A de cinquenta ficou pensando como que uma pessoa fala uma coisa dessas para outra que nem conhece? De certo porque estava sofrendo muito, precisando compartilhar uma dor. Pensou que se acontecesse com ela, o que faria? Se a siua vagina um dia iria colar, que coisa, nunca tinha ouvido falar uma coisa dessas.

De repente, a de setenta disse:
- Ele gosta de sexo oral, mas eu não.

Constrangida a de cinquenta resolveu descer.
- Boa sorte minha senhora, meu ponto é aqui, preciso descer. Até mais ver.

14 setembro 2011

Todo Sentimento - Chico Buarque

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente.
Preciso conduzir
Um tempo de te amar,
Te amando devagar e urgentemente.

Pretendo descobrir
No último momento

Um tempo que refaz o que desfez,
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez.
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente...
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.
Depois de te perder,
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada;
Nada aconteceu.
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.

07 setembro 2011

Pele

Pele morena e doce
Que encosta e gruda
Como se imantada fosse
No desejo transpira
Cheiro de corpo
Calor de corpo
Enrosco, agonia
Mão na nuca
Pele fria
Mão na boca, nos seios
Um aperto, um abraço
Vem...
Me abraça de novo
Me mata de cansaço

28 agosto 2011

Roteiro

          Atravesso a avenida Brigadeiro Luiz Antonio domingo cedo. Ninguém, nenhum carro, nenhum cachorro latindo, ambulância uivando ou fila de ônibus agonizando. Coloco o pé na calçada, depois na rua, tento calcular as camadas de asfalto que estão por cima dos paralelepípedos, os mesmos que viravam barras de sabão e lambiam os pneus dos carros subindo a ladeira em dias de garoa. Sim, São Paulo era conhecida por sua garoa fina e gelada. Pude sentí-la.
Todos os dias, exatamente ao meio-dia, meu pai subia a avenida no seu Aero Willis prata, carro brasileiro com motorzão de jipe e lataria pesada, tentando ser “de luxo”. Ele dirigia até a rua Boa Vista 176, entrada lateral do Banco do Estado de São Paulo, onde foi funcionário por 38 anos. Daí, minha mãe assumia a direção e me deixava na praça da República, no Instituto  de Educação no Caetano de Campos. Dos 5 aos 17 anos, aquele prédio neoclássico projetado por Ramos de Azevedo, foi minha segunda casa e era considerado um centro de excelência educacional. A praça era arborizada, havia lagos com patinhos e peixes, e até um bicho preguiça. Do outro lado, uma Kopenhagen. Eu fugia da escola para comer nha benta e batatinhas de marzipan.
Nas férias, eu e minha mãe (de luvas brancas de crochê e salto alto) íamos fazer compras na cidade e tomar chá no Mappin, em frente ao Teatro Municipal. Depois, atravessávamos o Viaduto do Chá para comprar sapatos na rua Quintino Bocaiúva e, na volta,  tomávamos o ôninus Paraíso no Vale do Anhangabaú. Vínhamos sentadas.
No ginásio, eu e minhas amigas íamos fazer pesquisa na Biblioteca Mario de Andrade andando pela rua São Luiz, passando por butiques, pela agência da Luftansa e admirando as entradas clássicas dos edifícios elegantes. Nos tempos da escola normal, íamos comer èclairs na doceria Dulca na rua do Arouche, e admirar as vitrines de sapatos. Imaginávamos como seria maravilhoso um dia sair para jantar com o namorado no restaurante O Gato que Ri. Cabulávamos aula para ir ao cine Metrópolis onde o porteiro fingia acreditar que nossas carteirinhas de estudante não eram falsificadas e depois comer esfiha no Almanara da rua Basílio da Gama.
Ainda na garoa, no meio da Brigadeiro, quando me dou conta estou olhando para o céu encoberto e rindo de mim mesma. Embalada pelas lembranças, decido pegar a alameda Sarutaiá e logo vejo cães, os atuais seres dominantes do bairro, eu acho, com roupas coloridas, acessórios de cabelo, capa de chuva e sapatos (quatro). Arrastam seus escravos que recolhem, em saquinhos plásticos, suas fezes ainda quentes.
Cruzo a alameda Campinas, a rua Pamplona e atravesso a Nove de Julho. Lembro do túnel antes da construção do MASP. Chego à rua Augusta, hoje feia e decadente,  caminho até onde era o cine Paulista, das matinês de domingo, do cachorro quente depois do filme, ou sorvete de creme com hot fudge nuts. Das garotas de mini-saia e dos rapazes de calça Lee. Na Oscar Freire, paro em frente à lanchonete Frevo. Depois, subo a Augusta até a Paulista, entro no Conjunto Nacional. Onde está hoje a livraria Cultura, era o espetacular Cine Astor. Lembro da minha melhor amiga, quando voltávamos para casa a pé.
Continuo andando,  sentindo o frio no rosto, só que não vou até a rua Sampaio Viana onde eu morei tantos anos, nem à praça Oswaldo Cruz, ou o que restou dela, sem o chorão, sem a Sears e com o desprestigiado índio fora de lugar. Viro à direita na Brigadeiro.
Em contagem de chronos, foi mais ou menos uma hora e meia. Em contagem de kairós... bem kairós é o tempo oportuno, que não se sente passar. Foram décadas, uma vida inteira, ou apenas alguns segundos.

23 agosto 2011

Pá Moreno

Tudo de bom!

Zé Rubens na guitarra, Pá cantando e Flavinhda dançando.
Um momento zen, um privilégio.

I can't stop loving you,  I've made up my mind
To live in memory of the lonesome times
It's useless to say
So I'll just live my life in dreams of yesterday
Those happy hours that we once knew
Tho' long ago, they still make me blue

16 agosto 2011

Tabu

Minha dificuldade? Escrever um romance. Tenho a impressão de que se eu não terminar logo va9i ficar chato. Tentei várias técnicas de escrita, estudo de roteiros, foi pior. Parece que não vou saber como terminar a história.

Anoto as boas idéias. São tantas, como juntar?  Já escrevi poesias, um pouco de prosa poética e  contos, crônicas também, algumas fracas, quase infantis. Quero escrever um livro de memórias da família, de gente muito velha que adorava contar histórias. Acho esse gancho interessante, estou pesquisando, juntando dados, datas e depoimentos.  Aí, a grande dificuldade, o tabu. A razão sabe que não é verdade, mas o ego insiste. 

No momento estou na página 12 e não sei para onde ir. Minhas memórias me parecem mais ficção do que qualquer coisa que eu possa inventar.Talvez eu fique com elas.

Justiça ? Depende.

 Vamos imaginar que uma menina estudiosa queira ser juíza e que, desde os primeiros anos seja sempre a primeira da classe, a queridinha da professora, com direito a levar maçã e ser ajudante da classe. É claro que a garota exemplar é o orgulho do papai e da mamãe, sempre arrumadinha, bem comportada, nunca dá trabalho nenhum.

Adolescente, continua um amor, só estudando, os livros são seu universo. Entra na faculdade com 16 anos e se destaca por seus trabalhos sempre individuais, se recusa a pertencer a qualquer grupo. Gradua-se com láurea acadêmica e vai em busca do sonho da magistratura. Dedicada, é claro, não tem tempo nem para namorar. Presta concurso e passa em primeiro lugar. Perfeito!

A partir  daí, totalmente protegida pela teoria e pela capacidade de passar em provas está preparada para preservar a dignidade humana, defender as liberdades públicas, buscar a pacificação social, resolver sabiamente conflitos entre pessoas e bens da vida como a liberdade, o patrimônio, a honra e outros mais complexos !!!

Aos vinte e poucos anos, cabe a ele decidir qual das partes têm o direito, de acordo com a legislação.
Que ela entende de leis, papleada e burocracia, não há dúvidas.

Mas o que ela entende da vida para julgar divórcios complicados, crianças fragilizadas, segundas esposas perversas, ou namorados cafagestes?

Será que um dia ela sentiu na carne ter que trabalhar 10 horas por dia para alimentar bocas famintas, chegar em casa fazer o jantar, acompanhar a lição e preparar as lancheiras para o dia seguinte enquanto o ex viaja para a Europa com a namorada ? Ou será que ela sabe o que é ser trocada por uma perua que detesta seus filhos? Talvez ela conheça bem o termo alienação parental, mas será que ela já sentiu de verdade o que é ser caluniada?  Pois é, a vida assim e a justiça é cega, surda e muda.







05 agosto 2011

O genial Helmut Newton

“Eu sou superficial, as minhas imagens não são profundas, não sou um fotógrafo engajado, amo tudo que é artificial, belo, divertido. O bom gosto é a antimoral, a antifurto, a antimulher, o antierotismo! A vulgaridade é vida, diversão, desejo de reações extremas.”

02 agosto 2011

Tempo das sombras

Da noite, do recolhimento, da introspecção.
A lua é quieta, melancólica, se transforma sem fazer alarde.
É fértil, tristonha, misteriosa.
A decepção me leva, também tristonha, para um tempo de sombras.
Sempre acho que as pessoas são como nós somos.
Mas as pessoas são como são.
Não adiante pedir um milhão pora quem tem cinco centavos. Quem tem cinco só vai dar cinco, ou menos...
E o homem põe pela boca só aquilo que está no seu coração.
A vida é assim. É o que estou tentando me convencer...

11 julho 2011

Teatro Municipal de São Paulo

Restaurado, lindo!Fui ontem, ao entardecer.

Ver a cidade se iluminando e ele lá, imponente, iluminado... deu uma alegria...

O mais bacana é que estava lotado, todo mundo prestigiando esse nosso patrimônio. Pena que as pessoas ainda não tem postura de quem vai ao Municipal. Ao olhar para baixo e ver o espetáculo começando e uma porção de celulares acesos, pensei: Será que não dá para desligar essa maquininha luminosa por 2 horas? Duas horinhas só...os bailarinos estão lá, mostrando sua arte, ensaiam meses, oito horas por dia para oferecer um pouco do belo e a turma teclando, teclando, teclando...

24 junho 2011

Quem não conhece o Tre em Piracicaba precisa conhecer!

Eu estava lá! Amei...super clima mágico até as quatro da matina con vino, musica, amicci e amore...

10 junho 2011

Coisas da cidade...

Quatro da tarde, o céu está estranho e eu começo a trabalhar no computador. A concentração foi para o espaço, mesmo assim tento responder emails, para começar. Ouço um estrondo, a energia cai e, enquanto eu me acostumo com a tela preta à minha frente, volta e cai novamente.Tiro todos os fios das tomadas e logo sinto um cheiro de queimado, alguém me diz que é a pizzaria acendendo o forno à lenha. É nada, a coisa foi bem pior e todo mundo sai para a rua para ver. Chamam os bombeiros, interditam a rua e o fio lá, pendurado, soltando faíscas. Vamos embora, então? Não adianta ficar aqui, não vai dar para fazer nada.


Chove muito, esqueci o guarda-chuva, mas o casaco é impermeável, deve dar.

Não deu. No meio do caminho a chuva engrossa e escorre no rosto, entra nos olhos. Droga. As pessoas se apertam debaixo da cobertura do ponto da Santo Amaro. Tenho aula e se eu faltar de novo perco a vaga, o certificado, perco. Me sinto super culpada, mas vou tentar. Entro no veículo lotado, abafado, com cheiro de cachorro molhado. Consigo um lugar de idoso e fico só olhando o relógio.

Quase na Brigadeiro Luiz Antonio o ônibus dá um solavanco, bate num carro e a gorda que estava dormindo ao meu lado quase quebra o pescoço. E agora? Desço, espero, falo com os outros? O motorista, que havia descido para ver a besteira que fez, entra no ônibus com o dono do carro batido e pede para alguém ligar para a empresa e contar o que aconteceu. Eu não vi, não vi mesmo, porque estava do outro lado. Começa a discussão e eu resolvo descer. Veio camelô vender anel, cordão e perfume barato...

Caminho mais algumas quadras e vejo Noé, o timoneirro da Arca, com uma capa de chuva amarela que ganhou de um pescador da Naruega. Peço uma carona peloamordedeus. Ele abre a porta da Arca, lotadaça, e vai  subindo a Brigadeiro devagar, num balanço. Uma senhorinha que vai descer me dá seu lugar, eu escalo os degraus estreitinhos, me empoleiro no banco e vou logo abrindo a janela, já estou ensopada mesmo, que entre a chuva e renove o ar. Um rapaz simpático conversa educadamente comigo e eu disfarço para sair da mira de seu hálito ruim.

Na hora de descer preciso fazer uma " pole dance" acrobática e acabo caindo em cima das pessoas que reclamam.  Ponho os pés em terra firme e ando mais uma quadra na chuva. Finalmente chego e o porteiro, assustado com minha aparência, me pergunta o que aconteceu.

São 8:30 da noite, ainda penso em ir à aula. Entre a culpa e a razão, fico com a segunda. Não posso me dar ao luxo de ter uma penumonia nessas alturas do compeonato. Semana que vem, se não chover eu vou.

01 junho 2011

felicidade

é sapato que não aperta, roupa confortável, café na padaria e ser exatamente quem você é. Ser apenas, nada mais.

31 maio 2011

Sair derrubando paredes ...

... não é tão simples assim.

Você olha para aquele obstáculo, visualiza a vida sem ele e sonha com o final feliz.

No pensamento é a coisa mais fácil, mas na prática a teoria é a outra! Tudo bem, vamos derrubar tudo!

E o que a gente faz com o entulho, onde estaciona a caçamba? Onde guarda o que que quer preservar?

Calma!

Muita calma,

uma coisa de cada vez,

afinal passar pelo processo

é o que conta.

23 maio 2011

Melhor que ir ao cinema...



... é ir ao cinema bem acompanhada e comentar o filme depois. Melhor ainda é ficar à vontade para dizer " eu não entendi aquela parte".

18 maio 2011

Eu havia esquecido...

...que o luar ilumina, o céu tem milhões de estrelas, passarinhos trazem alegria, cheiro de mato faz bem, cachacinha caseira abre o apetite, bolo quente dá dor de barriga...

e que os rios nascem em algum lugar mágico no meio da mata onde a gente precisa ficar em silêncio para não atrapalhar a natureza.

17 maio 2011

De vez em quando é bom descer rio abaixo...

Colete salva-vidas, capacete, pés para cima para não bater nas pedras do fundo do rio, deixar as águas me levarem...Não dá para nadar contra porque a correnteza é forte, não para fazer nada a não ser olhar o céu azul e apreciar a paisagem.

Deixo a vida me levar...

03 maio 2011

Homenagem aos Trevisan que amam Gardel

Por una cabeza de un noble potrillo que justo en la raya afloja al llegar, y que al regresar parece decir: No olvidéis, hermano, vos sabés, no hay que jugar.

Por una cabeza, metejón de un día de aquella coqueta y risueña mujer,
que al jurar sonriendo el amor que está mintiendo, quema en una hoguera
todo mi querer.

Por una cabeza, todas las locuras. Su boca que besa, borra la tristeza, calma la amargura. Por una cabeza, si ella me olvida qué importa perderme mil veces la vida, para qué vivir. Cuántos desengaños, por una cabeza. Yo jugué mil veces, no vuelvo a insistir.

Pero si un mirar me hiere al pasar, sus labios de fuego otra vez quiero besar.
Basta de carreras, se acabó la timba. ¡Un final reñido ya no vuelvo a ver!
Pero si algún pingo llega a ser fija el domingo, yo me juego entero.
¡Qué le voy a hacer..!

02 maio 2011

O tempo oportuno

Em grego, há duas palavras diferentes para 'tempo': chronos e kairós. Chronos é o tempo corrido, o dia-a-dia comum, onde tudo é igual e nada de novo acontece. Kairós é o tempo oportuno, aquele tempo que não pode ser medido, que passa sem a gente perceber. 

Ontem foi assim; Os Trevisan Zanetti reunidos no restautante Tre, em Piracicaba, uma casa de 100 anos restaurtada nos detalhes para ser um ristorante. A polenta mole com carne e molhinho, juro, era igualzinha a da minha nonna Dina.

Foi kaiós ouvir o gene musical manifestado nos descendentes dos Trevisan. Iride, um dia, jurou não mais cantar, mas seus filhos netos e bisnetos são todos musicais, cantam, tocam interpretam. Ouvir Rubens e Sergio cantando o tango "Por una Cabeza" foi kaiós. Afinados, emotivos, ainda meninos.

O dia inteiro foi um tempo oportuno de estar com família e com minhas netas quevquerem aprender música.  Além da polenta da nonna Dina, recebi o alimento que só o âmbito da família pode dar: amor.

04 abril 2011

Body and soul na academia

Fui para o alongamento hoje cedo e o professor resolveu colocar mísicas do século passado, para meu deleite, eu acho. Estou lá me esticando toda e começo a ouvir Caetano cantando Bodye and Soul. Fiquei emocionada, que coisa. Boa música é boa música sempre. Acho que hoje seria o último dia de aula dele nessa academia e ele deveria estar um pouco melancólico. Eu nem imaginei que ele conhecesse jazz dessa época. Adorei

29 março 2011

Por uma filósofa de sete anos

Agora que eu já sei ler, aprendo em silêncio!

Nada se compara á emoção da descoberta do conhecimento. Pena que as escolas viram corporações lucartivas disputando " inovações" absurdas só para ter um diferencial. Hoje não interessa construi o conhecimento, mas sim humilhar a criança aponmtando o que ela não sabe. Não é dando feijoada para bebês que se constroi um geração forte. Cada coisa no seu tempo.


Não posso me conformar que um professor testa o conhecimento dos alunos baseando-se no que ele não sabe e não no que ele sabe. A auto estima vai para o espaço.

25 março 2011

carta...


Não  consigo encontrar outra maneira de dizer o que tenho a lhe dizer a não desse modo pontiagudo e fatal: não há planos, esperanças, ou possibilidades de ficarmos juntos. Acabou. O que quer que tenhamos vivido. A vida passou, as chances se foram, comemos barriga no jogo da vida. De agora em diante, cada um segue seu caminho, vamos lembrar o que foi bom.

Houve um tempo, foi há muitos anos e você se lembra bem, em que eu queria que você ficasse comigo. Não precisava ser muito mais do que vinha sendo, queria apenas que você dissesse que me amava e que compartilhasse um pouco do meu amor dentro de nossa confortável rotina. Foi o tempo em que mais amei você. Tola, imatura, porém sincera como uma criança eu o amava, queria o seu bem. Você fazia de tudo para não deixar escapar nem uma lasquinha de felicidade quando estávamos juntos, nem uma frestinha de gostar de mim porque também era tolo, imaturo e sincero. Você dizia que eu era quase perfeita, mas a perfeição em forma de mulher assombrava suas esperanças.

Tentei algumas vezes tirar você da minha vida. Quando a ferida estava cicatrizando, lá vinha você dizer alô e começar tudo de novo. De raiva, fui embora, me despedacei de saudades de algo que na verdade eu nem tinha. Encontrei velhos e novos amores, me arrisquei, mas seu fantasma perambulava ao meu redor.

Fingimos ser amigos, tentamos reatar, vivemos alguns dias de faz-de-conta-que-a-gente-é-feliz.  Agora você diz que queria estar comigo. Estamos velhos demais para sonhar, nossas manias não tem mais graça, são incompatíveis, e nossa paciência com o outro se foi. Não é justo depois de tanto tempo ficarmos juntos só para não nos afogarmos na solidão. Hoje a solidão é o meu santuário, já gosto dela. Pior, ela me faz bem. É onde fico para me recuperar de tentar entender esse mundo egoísta, descarrilado, que se atropela em progressos (regressos). Cuidei de tudo e de todos, cuidei de você, preciso cuidar de mim. Agora, não tenho mais ânimo para recomeçar.

Meu amor ainda existe, as lembranças me aquecem, eu só quero ter certeza de que você está bem, em paz. Sem ressentimentos, o que vamos fazer é cada um cuidar de si e tentar ser o melhor que pudermos ser daqui para frente.
Eu te amo. Adeus

22 março 2011

lua luinha

rabisquinho de prata
você é só minha
fiapo de algodão
meia lua meia taça
renda branca de fumaça
lua cheia escancarada
lua gorda descarada
lua míngua
está cansada
lua nova é do outro lado
deste lado está apagada