Um belo dia, estava eu atrasada , indo buscar as crianças na
escola, quando tive a exata impressão de ter, ao meu lado, um ser de luz, de
quem eu só via os pés, bem limpinhos e branquinhos, com unhas redondas e bem
polidas. Como por pensamento ele me dizia, em inglês, que eu olhasse bem para
os pés dele e que confiasse nele. Porém, que desconfiasse de aparições que não
mostrassem os pés. Quase bati o carro por causa dessa sensação e achei melhor
encostar o carro num lugar seguro. Peguei uma caneta e um bloco ( sempre tenho
uma caneta e um bloco) e anotei tudo o que ele ia me passando por uma espécie
de telepatia, uma comunicação sem palavras. Disse seu nome, Shong Lou Wang.
Aflita com o horário, não conseguia mais me concentrar e então ele disse que eu
precisava ser mais vertical, ter mais confiança na minha intuição, ser bem
louca, tão louca quanto eu achasse que poderia ser, pois o mundo precisa de
gente louca que faça coisas diferentes. Hã!
Cheguei a desenhar com canetinha colorida a imagem que eu achei ter visto, mostrei para o chinês da lojinha do bairro, ele disse que aquele era um sábio, o que para nós ocidentais poderia ser um anjo. Outras pessoas, de outras crenças já o viram perto de mim, meu filho sonhava com ele.
Cheguei a desenhar com canetinha colorida a imagem que eu achei ter visto, mostrei para o chinês da lojinha do bairro, ele disse que aquele era um sábio, o que para nós ocidentais poderia ser um anjo. Outras pessoas, de outras crenças já o viram perto de mim, meu filho sonhava com ele.
Tempos depois fui para São Francisco - Califórnia - ao sair do aeroporto, na rua, confesso, estava perdida, não sabia para onde ir. Isso aconteceu nos anos 80, as pessoas viajavam menos, não havia wifi, nem celulares, nem mapas no Google. Fui para um ponto de ônibus, devia estar com cara de assustada, quando um senhor chinês, bem velhinho, se aproximou. Bem vestido, inglês fluente, perguntou se podia me ajudar. Sim, claro que podia, como chegar à rua tal, número tal, hotel Holiday Inn. Sorriu, fofo. Muito fácil, muito fácil...explicou com calma e clareza. O ônibus chegou e eu cheguei onde tinha que chegar. Amei a cidade, me senti em casa. Comprei uma caixinha de música só para poder ir lá, a hora que quiser, em pensamento.
Nos anos 90 minha filha se mudou para uma cidadezinha
próxima a São Francisco e eu tive outras oportunidades de curtir o lugar. Meu
sábio chinês às vezes aparece, fica triste quando me esqueço dele, está sempre
à disposição. Achei uma foto de uma turminha de sábios chineses e ele está
entre eles.