Já estou nas alturas. Sem preocupações nem cobranças, apenas aproveito o tempo em minha companhia. Tiro um cochilo e acordo com o rosto no vidro. Vejo pela janela o solo quadriculado, lembrando uma colcha de retalhos de veludo cotelê, com todos os tons de verde, marrom e ocre. Plantações.
A cidade na linha do horizonte como se fosse uma maquete morta, velha e empoeirada, arreganha arranha-céus sem vida, sem cor.
Divago na descrição do cenário para tentar me entender. Cochilo novamente.

Sobrevoando as montanhas do Colorado procuro gravar o momento, esta nova face que me assusta e atrai. É bela, é a solidão bem vinda que confirma que sou só, porém faço parte deste grande todo, onde os detalhes desaparecem nas nuvens.
Quanto tempo eu perdi. Agora simplesmente sou.
Neste momento, a paisagem é lunar. As nuvens de carneirinho se confundem com as montanhas cobertas de neve. Não me lembro de ter visto nada parecido. Flocos de algodão doce e açúcar de confeiteiro.
Sou meu pai e minha mãe, meu irmão e minha irmã, meu marido e minha esposa.
Eu sou.
Da janela, vejo apenas fumaça e luz. Paz é o deleite de estar só. Sinto cada parte do meu corpo: mãos ressecadas, cabelo despenteado, narinas dilatadas pelo ar pressurizado, mão e braço adormecidos, pernas inchadas e o coração batendo.
Sinto-me só, deliciosamente só.
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