Chovia
a potes. Era uma daquelas tardes de janeiro quando a chuva, em vez de
refrescar, levanta um vapor do cimento quente. O café estava vazio e Zé
preenchia várias cartelinhas da loto. O pequeno toldo de lona enchia de água e criava
um chuveiro grosso no canto direito da fachada. Ele ficou preocupado, com medo
que a armação desabasse. Pegou uma vassoura e cutucou o tecido, eliminando a
água pelos lados da cobertura. Pronto. Deveria funcionar por um tempo.
A chuva
continuava e o toldo tornava a encher. Quando Zé ia repetir a operação lá estava
um moleque debaixo de onde caía mais água. Devia ter uns 10 anos, vestia uma
camiseta escura onde se lia em letras grandes University of Miami. Por estar ensopada, quase chegava ao chão e o
garoto lá, pulando, de boca aberta, tomando água da chuva.
Zé
ficou olhando e riu. Ele mesmo tinha vontade de sair na chuva, chutar poças d’
água e brincar na enxurrada. Mandou o garoto sair duas vezes e na terceira vez o
menino respondeu:
- Eu me
chamo Denílson e só tô tomando chuva, moço.
- Entra
aí, Denilson, sai da chuva – disse Zé complacente.
Pingando
e feliz da vida, o garoto aceitou. Tirou a camiseta e torceu para o lado da
calçada, depois sacudiu bem e torceu de novo. Espremeu as laterais do shorts de
nylon e passou a mão no cabelo molhado.
- Posso
ir no banheiro? Só pra lavar a mão.
- Vai
lá, mas não faz bagunça, tá?
Saiu do
banheiro com cheiro de sabão líquido. Zé achou que ele tomou banho na pia,
ficou com dó. Preparou um café com leite bem quente, pão com manteiga e puxou
conversa. Denílson estudava na escola pública do bairro, trabalhava no
mercadinho fazendo entregas, ajudava a mãe e jogava no timinho da rua. Dava
duro, fazia o dever, mas naquele dia resolveu cabular.
Era uma
daquelas tardes abafadas de janeiro e Denílson era apenas uma criança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário