10 janeiro 2016

Cascuda...

… e asquerosa, lá estava ela parada no cano da torneira da pia. Era grande, repugnante, a desgraçada, com antenas duas vezes seu tamanho tateando o cano enferrujado. Suas asas pardas se entreabriam e fechavam em um movimento lento e nojento, parecia que ia voar. Zé pegou a vassoura, escorregou o pé para fora do chinelo, abaixou-se e o empunhou como uma segunda arma de defesa.

E a barata lá, só mexendo as antenas. Zé optou pelo chinelo. Desferiu um golpe certeiro e a bicha caiu de costas na pia. Ficou imóvel por uns segundos, mas depois começou a mexer as pernas tentando se desvirar. Conseguiu! A chinelada não fez efeito e ela saiu lépida entrando atrás do quadrinho do Sagrado Coração de Jesus.

Zé largou a vassoura e foi procurar um inseticida. Derrubou tudo o que estava na prateleira, pegou o aerosol e mirou no quadro, apertando o pino como quem aperta o gatilho de uma arma assassina. O líquido formou uma névoa e depois escorreu pelo quadro.
- Agora eu matei! – disse  ele.

Continuou sua rotina, limpou a sujeira, guardou a bagunça, lavou bem as mãos e disse bom dia a um freguês que acabava de entrar. Cafezinho carioca com espuma de leite, um copo de água sem gelo e um pão de queijo. Pão de queijo não tinha, foi pão de batata. Começaram a conversar sobre o calor, o trânsito, nada de mais. O sujeito era amável e Zé, que estava gostando do papo, serviu a água e em seguida colocou no balcão o café e o pão em um pratinho. O freguês começou a fazer perguntas sobre a coleção de xícaras, Zé se distraiu  e quando bateu o olho no balcão viu a baratona em cima do pão de batata. Ficou sem ação. O freguês, que estava de costas, continuou falando. E agora? Cadê a vassoura? Estava longe. E o chinelo? Era a sua chance. Sorrindo fez uma espécie de reverência, pegou o chinelo e tacou na barata por cima do ombro do freguês. Ela fugiu de novo. Filhadaputa! E agora ele havia ficado mal com o simpático cliente que provavelmente jamais voltaria a café.

E não é que o Zé estava enganado? O cara era biólogo, não estava nem aí com a dita cuja.



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