Em
frente ao café, do outro lado da rua havia um ponto de ônibus bem na porta da
oficina de um tapeceiro, coitado. Era um inferno cada vez que ele precisava
entrar ou sair com sua caminhonete velha, ora carregada com poltronas sujas,
ora com sofás renovados, cobertos com plástico-bolha. Como o ponto não tinha
cobertura de alumínio, o sol batia sem piedade e o povo se amontoava quase
dentro da oficina, para poder ficar na sombra. Em dia de chuva era pior.
Próximos
ao ponto, ficava um vendedor de balas e outras porcarias, uma senhora com
bolos, enormes pães de queijo ocos e várias térmicas de café, aqueles vendedores de
chicletes e chocolates que ficam fazendo discurso dentro do ônibus. Boa tarde
pessoal. Desculpe atrapalhar sua viagem, pessoal. Um deles, vestido de palhaço.
À tarde, churrasquinho de gato com farinha e tudo. A calçada esburacada ficava
cheia de lixo, descartáveis, plástico, bitucas, cusparadas, um nojo. Um dia,
chamaram um cara para retocar o cimento e o folgado cimentou por cima da
sujeira. Na primeira chuva saiu todo o cimento, não adiantou nada.
Zé
olhava e pensava nas enchentes que vira no noticiário na noite anterior. Nisso,
um bêbado dá sinal para o ônibus. A porta se abre, ele agarra o corrimão, atira
a lata de cerveja no meio da rua e sobe. O cobrador aproveita e arremessa um
monte de papel picado pela janela.Um passageiro cospe pela janela e um garotinho joga papel de bolacha pela janela seguinte.
A
vizinha do tapeceiro resolve lavar o quintal, manda um balde cheio, e a água com
sabão escorre pela calçada. As pessoas paradas esperando o ônibus se afastam
erguendo um pé de cada vez. Reclamam, mas a vizinha nem liga e esfrega o chão
com a vassoura.
Zé
olhava e pensava que era melhor ficar lavando xícara o inteiro do que sujar a
rua daquele jeito. Gente porca. Depois reclamam das enchentes.
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