Zé está
de olho numa velhinha que vem vindo devagar. Apoiada
na bengala e carregando uma sacola de pano no braço, vem pelo lado de dentro da
calçada, quase esbarrando nos muros, talvez para se sentir, de certa forma,
apoiada. Porte altivo, bem arrumada e toda penteada, tem um rosto aristocrático. Apesar das rugas, e do excesso de maquiagem, ainda conserva belos traços. Parece uma baronesa. Passa
em frente ao café e para. Sacudindo a bengala, chama o Zé e pergunta:
- Você
aí! Venha cá meu rapaz. Preciso de um café com leite bem clarinho e um copo de
leite morno, à parte. Você poderia fazer a gentileza de me servir?
Claro
que poderia. Fazendo uns salamaleques, com um cuidado exagerado, Zé ajuda a
velhinha a se sentar e vai providenciar o pedido. Viu logo que era uma fina senhora.
Enquanto
isso, a dama abre a sacola de pano, tira um pedaço de pão embrulhado em
papel-toalha, uma faquinha de plástico e um gato. Coloca tudo em cima da mesa. Chama o Zé novamente, pede um pires e um pouquinho de manteiga.
Zé, que
tinha alergia a gatos, fica apreensivo. Não achava nada bom um gato em cima de
uma das mesas, poderia espantar a clientela, mas não abre a boca. Espirra feito
louco e esfrega os olhos, que já estavam vermelhos. Leva tudo o que foi pedido, atencioso, mas invocado.
Depois, se acalma, vai fazer outra coisa e não presta mais atenção na velhinha
que passa manteiga no pão, despeja o leite no pires e fica por ali bastante
tempo. De barriga cheia, o gato dorme ao sol, com a cabeça ligeiramente pendida da beirada da mesa.
Depois
que a baronesa saiu, Zé limpou tudo muito bem com um pano com álcool. Quando
lavou a calçada no fim do dia, jogou creolina pura e uns baldes bem cheios de água. Pelo jeito não adiantou
porque ninguém mais sentou naquele lugar. Reclamavam de cheiro de xixi.
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