13 dezembro 2015

Desgraçada...

Ele perambulou a noite toda. Por fim, sentou-se na calçada encostado à porta de ferro e ficou esperando o café abrir. Estava acabado, puto de raiva, com ódio, remorso, tudo junto. Zé vinha andando e falando ao celular, passou pelo cara acabado e foi procurar a chave no bolso da calça. Abriu aporta de ferro e o fulano foi logo entrando e pedindo uma média. Que coisa! Era cedo ainda, Zé precisava ainda esquentar a máquina, organizar as xícaras. O homem não estava com pressa, podia esperar. Sentou-se. Um tempo depois, quando Zé trouxe a média e perguntou se queria um pão de queijo ele disse que não e foi logo falando o que havia acontecido na noite anterior.

Quando ele e a mulher (eram casados há 10 anos) voltaram do super mercado era quase meia-noite. Os dois, cansados, tiraram as compras do carro, colocaram tudo em cima da mesa da cozinha e, sem dizer uma palavra, foram acomodando os alimentos nos seus devidos lugares.

Ele segurava na mão um desajeitado vidro de maionese de um litro (que ela insistiu e fez questão de comprar), olhava desanimado para o interior da geladeira pensando onde iria acomodar aquele trambolho, quando ela falou:

- Acabou, Norberto. Quero me separar de você. Esse casamento é uma hipocrisia, não estamos juntosmuito tempo, é melhor cada um ir cuidar da sua própria vida antes que a gente sofra mais. Afinal a gente ainda não tem filhos. Não é isso que eu quero para mim, sabe? A gente ainda é jovem pode recomeçar, nossos interesses são muito diferentes e, quer saber? Acho que foi tudo um grande engano. Não aguento mais discutir a relação, não tem diálogo, só eu falo. Olha aqui, o problema não é você, sou eu, entende? Você é quase perfeito, amigo, carinhoso, independente, mas está faltando alguma coisa, sabe?

Não, ele não sabia. Segurando o vidro ele ficou. Parado, de boca aberta olhava para ela como se estivesse vendo um extraterrestre. E ela continuou com mil argumentos, clichês que ele não conseguia ouvir.

Estava em estado de choque. Ainda com o vidro na mão perguntou se havia outra pessoa. podia ser isso: alguém no pedaço e ele , feito um corno idiota. Ela negou, jurou pela mãe, disse que ele estava louco, que não era nada disso, que simplesmente o amor havia acabado. Que ela estava confusa, precisava ficar sozinha, dar um tempo.

- Desgraçada!!! - gritou ele atirando o vidro de maionese na parede, com toda a força que a raiva conseguiu juntar.
- Des-gra-ça-da!!!

E saiu batendo a porta dos fundos com tanta força que a porta da geladeira, que já estava apitando de tanto tempo aberta, também bateu. Ela ficou parada. Um tempo depois pegou um pano e começou a limpar os azulejos cheios de maionese.


        Quando ele voltou para casa na manhã do dia seguinte tudo estava na mais perfeita ordem. A cozinha impecável, os jornais dobrados, a cama feita e as roupas no lugar. Abriu a porta do armário dela para ver se ela havia levado as roupas. Não. Tudo estava na mais perfeita ordem, para variar.

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