09 fevereiro 2016

Banal

Um bando de jovens estudantes se aproxima ruidosamente. Zé detesta esses meninos de 13 ou 14 anos, meio sujos, barulhentos, os pré-adolescentes, aborrecentes. Detesta. Só fazem barulho, ainda não sabem apreciar um bom café, consomem refrigerantes e pisam nas latinhas. Os feromônios efervescentes provocam atitudes um tanto animalescas: urros, pulos desajeitados gargalhadas e gritinhos histéricos. Arrastam as cadeiras, atiram as mochilas no chão, sentam-se de perna aberta, chutam-se e empurram-se de leve. A conversa é desconexa, mas não importa, cada um fala para si mesmo como se o resto do mundo não existisse e os insultos jorram de suas bocas.

Os seres ocupam duas mesas, jogam livros, agasalhos e mochilas, tudo no chão, pedem coca-cola, uma ou duas meninas água mineral. Pão de queijo? Alguém? Não, agora não. Um deles arrota alto provocando mais risos, o outro enfia na boca duas bolas de chiclete e limpa o cuspe que escorre na manga do moleton cinco ou seis números maior que o dele e com as beiradas dos punhos totalmente encardidas.

Ficam ali, cabulando aula e se aquecendo ao fraco sol da manhã.

Uma garota de cabelo cuidadosamente despenteado, graças a provavelmente um pote de gel, usa camisa de flanela amarrada na cintura e regata preta. Quando ela se baixa para amarrar o cadarço da bota de soldado perde o equilíbrio e cai em cima da amiga que está sentada e as duas vão parar no chão. Todos riem muito mais alto do que acham graça e as garotas não conseguem se levantar de tanto rir. Abraçam-se. Um dos garotos estende as duas mãos e puxa as duas para cima com força e elas conseguem se erguer apesar do ataque de riso. Uma delas dá um selinho no rapaz que a ajudou e faz uma cara de criancinha. A outra a imita, provocando. Ele se anima, passa o braço em torno do pescoço delas, uma de cada lado e as beija com vontade. Em seguida as duas se beijam lascivamente.

De repente, a conversa para e as risadas também. Então, começa uma degustação generalizada de bocas e línguas, uma mistura de afeto e erotismo grupal: homem com homem, mulher com mulher, faca sem ponta, galinha sem pé.  Fica um clima, até que alguém diz:
- Bóra galera!


Atiram um bolo de dinheiro amassado em cima da mesa, catam suas coisas e vão embora.

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