Um
bando de jovens estudantes se aproxima ruidosamente. Zé detesta esses meninos
de 13 ou 14 anos, meio sujos, barulhentos, os pré-adolescentes, aborrecentes.
Detesta. Só fazem barulho, ainda não sabem apreciar um bom café, consomem
refrigerantes e pisam nas latinhas. Os feromônios efervescentes provocam
atitudes um tanto animalescas: urros, pulos desajeitados gargalhadas e
gritinhos histéricos. Arrastam as cadeiras, atiram as mochilas no chão,
sentam-se de perna aberta, chutam-se e empurram-se de leve. A conversa é
desconexa, mas não importa, cada um fala para si mesmo como se o resto do mundo
não existisse e os insultos jorram de suas bocas.
Os
seres ocupam duas mesas, jogam livros, agasalhos e mochilas, tudo no chão,
pedem coca-cola, uma ou duas meninas água mineral. Pão de queijo? Alguém? Não,
agora não. Um deles arrota alto provocando mais risos, o outro enfia na boca
duas bolas de chiclete e limpa o cuspe que escorre na manga do moleton cinco ou
seis números maior que o dele e com as beiradas dos punhos totalmente
encardidas.
Ficam
ali, cabulando aula e se aquecendo ao fraco sol da manhã.
Uma
garota de cabelo cuidadosamente despenteado, graças a provavelmente um pote de
gel, usa camisa de flanela amarrada na cintura e regata preta. Quando ela se
baixa para amarrar o cadarço da bota de soldado perde o equilíbrio e cai em
cima da amiga que está sentada e as duas vão parar no chão. Todos riem muito
mais alto do que acham graça e as garotas não conseguem se levantar de tanto
rir. Abraçam-se. Um dos garotos estende as duas mãos e puxa as duas para cima
com força e elas conseguem se erguer apesar do ataque de riso. Uma delas dá um
selinho no rapaz que a ajudou e faz uma cara de criancinha. A outra a imita,
provocando. Ele se anima, passa o braço em torno do pescoço delas, uma de cada
lado e as beija com vontade. Em seguida as duas se beijam lascivamente.
De
repente, a conversa para e as risadas também. Então, começa uma degustação
generalizada de bocas e línguas, uma mistura de afeto e erotismo grupal: homem
com homem, mulher com mulher, faca sem ponta, galinha sem pé. Fica um clima, até que alguém diz:
- Bóra
galera!
Atiram
um bolo de dinheiro amassado em cima da mesa, catam suas coisas e vão embora.
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