10 novembro 2015

O gringo


Sexta-feira, fim de tarde, todo mundo em clima de fim de ano, comemorando a chegada do décimo terceiro. Várias mesas do café estavam ocupadas com o pessoal que trabalha na região e que nessa época do ano finge se divertir com o sorteio do amigo secreto. ninguém aguenta mais. Aêêê... Meu amigo não é amigo.... é aaamiiigaaa!

Apenas uma mesa estava ocupada por uma pessoa só. Era um cara grisalho e de barba que tomava cerveja observando. Zé achou que ele era gringo, que tinha cara de sangue bom, aproximou-se e puxou conversa.

- How are you? – disse Zé todo orgulhoso.
- Tudo bem, obrigado – respondeu o homem quase sem sotaque.

Era gringo mesmo, da Pensilvânia, antropólogo. Apesar do sorriso amigável, estava com os olhos cheios de lágrimas e foi logo dizendo, na lata, que estava muito triste. Zé, solidário, perguntou por que e ouviu atento a história, se esquecendo um pouco dos outros fregueses.

O antropólogo havia morado na Bahia anteriormente, casou-se com uma baiana e depois que seu filho nasceu voltou com a família aos Estados Unidos. Custaram a se ambientar, começaram as brigas, a separação aconteceu, o tempo passou. Mais tarde, resolveu morar num veleiro, coisa de gringo, e se aventurar. Adorava saber que poderia navegar para onde quisesse em sua casa flutuante e começou pelo Golfo do México, depois pelas águas do Caribe. A viagem dos sonhos durou 45 dias desde a Flórida até Paraty.

Deu tudo certo, ele foi ficando por lá. Estava feliz, no paraíso. O melhor, dizia ele, era acordar a cada dia com um cenário diferente, proporcionado pelo movimento da maresia. Às vezes, abria os olhos e via as montanhas, outras, o contorno da cidade histórica e assim passavam os dias de sossego. À noite, tocava blues num barzinho e depois dormia olhando a lua. Quer vida melhor? Just perfect.

      Por aqueles dias, uma tempestade tropical e a fatalidade: um raio atingiu o mastro de metal no meio da noite, destruiu o barco. Tudo estava perdido. Presente, passado, futuro, sua casa e seus pertences desapareceram depois de um trovão! Ele perdera tudo o que tinha nessa vida, estava apenas com a roupa do corpo, sandália havaiana e um celular pré-pago. Sem casa, sem esperança, sem saber para onde ir. Em Sampa, na casa de velhos amigos, tentava se recuperar.

Zé, ficou chateado, se emocionou, até. Colocou a mão no ombro do novo amigo e depois saiu.  Voltou com mais uma cerveja, uma porção de pão de queijo e disse: Fique aqui o tempo que quiser. Hoje é tudo por conta da casa!



2 comentários:

Nine disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nine disse...

Sandra estou começando a querer conhecer esse seu Zé...bjs