Agora você está entrando no Café do
Zé.
Fique à vontade, puxe uma cadeira.
Boas histórias ordinárias o
aguardam.
- Eu quero
um café ,
expresso, meio carioca .
Meio carioca é assim: com um pouquinho só de água
quente . Dá para
colocar espuma de leite ? O leite
é integral ? Ah, então
deixa . Pode ser
sem espuma. Tem açúcar
mascavo ? Ótimo !
Por favor ,
quero o café servido em xícara seca , se você não se importa. Detesto xícara molhada ,
muda o gosto
do café, sabe? Você pode levar
até a mesa ? Estou esperando uma pessoa . Dá para limpar
essa mesa aqui ?
Está suja . Obrigado.
O homem elegante e impecavelmente vestido puxa a cadeira ,
senta-se e abre o jornal com cuidado . Mal começa a ler e olha para cima , depois para os lados . Quando
Zé vem com o café ,
ele pede para
mudar de mesa
porque ali onde estava havia uma corrente de vento . Muda-se para
um lugar mais reservado perto do balcão e
diz que a música
estava atrapalhando sua leitura. Zé,
tentando ser gentil ,
diz que vai tomar
providências e resmunga qualquer coisa ao
entrar para a cozinha.
O executivo toma
seu café devagar. Pede uma água mineral , garrafa pequena , sem gás , com uma pedra de gelo , suco de limão à
parte e um
copo seco ,
por favor .
Detesta copo molhado .
Reclama que agora a música estava praticamente inaudível. Sim, dava para
aumentar o som, resmunga Zé.
Quinze minutos
depois, entra uma moça de cabelos roxos
espetados, unhas azuis, umas vinte argolas de metal
em cada
orelha e várias roupas
pretas sobrepostas. Vai direto à mesa do homem bem vestido e o beija . Na boca. Demoradamente. Senta-se ao lado dele e sorri com cara de alcova. Ele disfarça.
Ela contorna todas as reentrâncias da orelha esquerda dele com a língua de prego .
Depois, segura seu rosto com as duas mãos e repete o gesto na orelha direita. Ele abre os olhos e sorri totalmente enfeitiçado pelos
olhos verdes da exótica...
- Mais um café , expresso, meio
carioca .
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