É um
café bem chinfrim. Tem, no máximo, 12 metros quadrados .
Uma boa máquina italiana, uma estufa com salgados, um forninho para pão de
queijo e misto quente, uma velha geladeirinha Cônsul (caso algum frequentador
assíduo pedisse uma cerveja), três ou quatro mesinhas de ferro, uma prateleira
com uma coleção de xícaras empoeiradas, as favoritas do dono. Zé é
um cara simpático, observador, conversa sempre na medida certa. O
pedacinho de chão, que ocupa parte do passeio público, é uma extensão dele
próprio. Solteiro, vive em uma casa de cômodos não muito longe dali. Sobre
seu passado, quase nada se sabe. Parece que era neto de escrava. Sua mãe
nascera em uma grande fazenda de café e fora adotada pela família de
fazendeiros. Morreu cedo, a coitada. Zé trabalhou com a família até a
maioridade, depois teve de se sustentar e nem se lembra do tempo em que não
trabalhou. Chegou até a receber uma herança de seu pai, filho do dono da
fazenda, e o que sobrou dela foi um sobradinho. Ele aluga a parte de cima e
guarda o dinheiro do aluguel. Onde é a garagem, funciona seu café. Mora num quarto de pensão, acha mais fácil.
Criado
no meio dos cafezais, conhece tudo sobre o fruto. Sabe plantar, colher, secar,
torrar e moer os grãos. É capaz de fazer a alquimia perfeita que só os que conseguem ver
a nobreza de sua alma têm o privilégio de degustar.
Digamos
que Zé é básico, sem grandes ambições, nem preocupações, sem filhos
para criar, nem mulher para sustentar. Talvez, justamente por isso, transmita uma paz invejada. Quem vai lá tenta absorver a atmosfera
do local.
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