18 junho 2008

Memórias zoológicas ou Como eu gostava de insetos

Eu tinha uma boa relação com insetos quando criança, coisa que com o tempo infelizmente mudou. Talvez por ser filha única e por ter crescido no meio de adultos, que nem sempre dispunham de tempo ou paciência para me entreter, costumava ficar horas no minúsculo jardim, pesquisando aquele universo de seres interessantes. Gostava também de sentir o cheiro e gosto das plantas, até que um dia pus na boca uma folha venenosa ( pelo menos era o que diziam) e tive uma reação alérgica tão inesquecível quanto o gosto amargo da planta.

No verão, costumávamos visitar uma amiga de minha mãe que morava em uma casa grande, rodeada por um jardim enorme. Minha diversão era ouvir o canto das cigarras e sair à procura das que haviam estourado de tanto cantar. Eu as apanhava nas árvores e as arrumava em fila como um exército de monstrinhos de plástico, transparentes e sequinhos. Quando eu ia à piscina do clube, adorava ver as libélulas tocando de leve a superfície da água e ouvir a criançada gritando: Olha um lava-bunda!

Cavoucar a terra e encontrar minhocas corcoveantes, centopéias, tatus-bola era uma diversão; ou colocar um pouco de açúcar em uma caixinha e esperar as formigas virem, além de jogar sal nas lesmas e vê-las derreter. Eu detestava mariposas, tinha medo de louva-deuses, que se pareciam muito com os agapantos depois que perdiam suas flores, não gostava muito quando as tresloucadas borboletinhas pousavam no meu vestido.
Certa vez, meu vizinho convidou a criançada da rua para dar uma volta de carro, era um Pontiac dos anos 50 de cor creme, com a parte de cima da capota na cor bordô, desbotada. Entramos todos animados e eu sentei perto da janela, feliz da vida. Quando o vizinho olhou para trás para dar marcha ré, lascou-me um tapa no rosto que eu quase perdi a fala. Como se não bastasse, uma agonizante mariposa gigante se debatia no meu colo e tudo o que eu pude fazer foi gritar. Não gosto nem de lembrar.

Meu pai era bancário, trabalhava na sessão de contas correntes das 18:00 horas até a meia noite, quando eu e minha mãe íamos buscá-lo de carro. Nesse meio tempo, eu ficava estudando, fazendo lição e minha mãe costurando, fazendo tricô ou jogando paciência. Certa noite, quase na hora de sairmos, acabou a luz e ficamos no escuro por um tempo, até que ela resolveu sair e ligar os faróis do carro. Quando eu estava saindo, senti algo bater no meu rosto, me debati assustada, me enrosquei na cortina, mas consegui sair e fechar a porta de vidro. Quando eu entro no carro, esbaforida, vejo balançando na cortina uma mariposa, bem grande e escura.

Anos mais tarde, em uma sessão de psicanálise daquelas freudianas, havia uma maldita daquelas pousada acima da porta que eu só fui notar quando deitei no divã. Adulta e bem reprimida, não pude fazer o escândalo dos tempos de criança, o que me custou mais algumas sessões falando a respeito. Ainda tenho medo de voadores das trevas, como as tais mariposas, os morcegos e as baratas.

Acho que vou fazer uma fezinha na borboleta 13. Quem sabe?

2 comentários:

ec² disse...

heheheheheeheh
vamos rachar essa aposta???

bjos

Karen Kipnis disse...

Querida Sandra, como vai indo sua recuperação?Aproveite e escreva mais memórias zoológicas (também gosto de insetos!)e outras...
Deixe as de amor para 16 de agosto. Você volta logo? Beijo,
Karen