28 junho 2018

CHRONOS E KAIRÓS - por Sandra Schamas

Sobre o tempo.
No discurso de seu aniversário de 80 anos, o professor, mestre e doutor Rubens Murillio Trevisan descreveu lindamente o conceito de Chronos e Kairós. Com seus profundos conhecimentos de filosofia e teologia, nos encantou com sua voz amorosa e confiante e me fez entender que Chronos é o tempo dos homens, do relógio, das horas convencionais, e Kairós é o tempo oportuno, o tempo de Deus. 
Antes do catolicismo,  a mitologia já personificava Chronos como o senhor do tempo, aquele que  devora enquanto  gera. Devora os próprios filhos, os seres e o destino.

Kairós era representado por um jovem nu com asas nos ombros e nos tornozelos, tendo nas mãos uma balança, símbolo do equilíbrio e da justiça: é veloz, mas não passa da medida.

Sempre que estou concentrada, em alguma atividade que me realiza, completa e nutre, me imagino voando com Kairós. Eu poderia dizer que essa sensação de estar no aqui e agora define o que é  felicidade, total conexão com o universo interior e exterior.

Ao pensar nos meus 60+, volto para as décadas anteriores. Sem falar no primeiros anos da infância, quando o tempo era de Kairós, me dou conta que, quanto mais entrava na idade adulta, mais os anos eram devorados por Chronos. Ás vezes, quando o deus implacável e faminto descansava, o jovem com asas tinha vez. Porém,com o passar dos anos,  com as exigências da sociedade, me senti totalmente escrava de Chronos.

Recentemente senti a necessidade de repensar ao mistério davida e o mistério da morte. Quantos anos mais vou viver? Não sei, ninguém sabe. Então, por que não deixar Chronos interferir apenas no que é indispensável e fazer uma parceira com Kairós, pedindo emprestado suas asas e sua balança?  Qual é o tempo oportuno? Qual é o tempo de Deus, o que me faz voar em outra dimensão?

Cada um tem seu próprio conceito de qualidade de vida, de bem estar, de plenitude e todos os clichês sobre o envelhecimento, tão em alta nesse século. Quanto a mim, fazendo as contas, sei já vivi mais da metade do suposto tempo nessa vida, sei que alimentei muito Chronos, mesmo assim ele continua faminto, e que Kairós está à minha disposição, vou tentar emprestar as asas do segundo.

Dentro do pensamento filosófico/mitológico de que temos esse tempo oportuno, ou tempo de Deus, quero, no mínimo ser útil,  e mergulhar no que me interessa.

O envelhecimento em si, a plenitude, a finitude, a literatura do mundo inteiro, o que as pessoas andam fazendo de bom por aí, as tendências minimalistas e de reaproveitamento, mais o profundo interesse em ajudar o outro são, nesse momento, os veículos que me fazem voar.

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