Em um
tempo em que os homens achavam que “nada se poderia esperar intelectualmente
das mulheres”, Virginia Wolf já questionava a posição da mulher na sociedade e
na literatura. No livro-ensaio, Um Quarto Só Para Si (1929), onde encontra-se a citação " Uma mulher deve ter dinheiro e um quarto próprio se ela quiser escrever ficção. ", em descrições detalhadas e bastante cinematográficas, ela aponta as diferenças entre
universidades dirigidas ao público masculino, e as poucas universidades que permitiam a presença feminina, por exemplo. Nas primeiras, o luxo
sustentado pelos cofres do rei e a abundância de laboratórios, equipamentos, bibliotecas; nas outras, ambiente sóbrio, quase rural, onde imperava
apenas a sede de conhecimento. Um pouco antes, homens considerados importantes ainda diriam “elas são sustentadas
pelos homens e servem a eles”. A questão não era só servi-los, mas não poder ser independente financeiramente. Que mulher teria tempo de se
dedicar à literatura tendo 13 filhos para criar?
Se pensarmos
o quanto a posição da mulher mudou depois da I e da II Guerra, da Revolução Industrial,
do advento da pílula anticoncepcional decorrente da revolução sexual dos anos 60,
vamos perceber que a virada foi rápida e radical, depois de séculos de mesmice.
Final
da década de 50, a psicóloga Virginia Johnson se associa ao médico William
Masters no estudo do ato sexual humano e do
tratamento das disfunções sexuais. Muitos livros depois, com relatos
sobre conhecimento científico da sexualidade humana, tratamento de problemas
sexuais, a ausência de orgasmo feminino, etc., muitas portas se abriram, houve melhoria
da vida sexual de muita gente em todo o mundo. As mulheres ficaram sabendo que era possível ter prazer e passaram a reivindicar seus orgasmos.
A partir dos
romances eróticos de Anaïs Nin, influenciados pela obra de James Joyce e a
psicanálise, à D. H. Lawrence, que apesar de ser do sexo masculino inovou com “O Amante de Lady Chatterley” ao revelar os
desejos sexuais de uma burguesa e seu amante, a literatura sobre erotismo já começava
a dar tímidos passos.
No
Brasil, a primeira mulher a publicar poesias eróticas, Olga Savary, hoje com 77 anos
diz que pensa muito em sexo. Atrás do sorriso enigmático, guarda retratos e
poemas de admiradores famosos e histórias picantes, profundas e divertidas.
Contemporânea de Olga, Cassandra Rios foi uma das autoras mais vendidas, e
perseguidas, nos anos 60 - a censura não tolerava o forte conteúdo erótico de
sua obra, assuntos como homossexualidade feminina, relações entre sexo,
religião, política. Não menos transgressora, Adelaide Carraro, outra brasileira
que deixou obra extensa, sendo o título mais conhecido “Eu e o Governador”, sobre
suposto romance com Jânio Quadros, quando este era governador de São Paulo.
Hoje,
poucas décadas depois, as mulheres já caminham altivas, com suas conquistas.
Sabem que ainda falta, mas querem arriscar. E. L. James, a dona de casa
britânica que descreve sem reservas suas fantasias sexuais, sacudiu o imaginário de outras
milhares de donas de casa com seus “
Cinquenta Tons de Cinza”. Com ela, as americanas Sylvia Day e Eve Berlin, a
francesa Catherine Millet e italiana Melissa Panarello, entre outras, também
aderiram à moda.
Se E.
L. James escreve mal, se o conteúdo é questionável e outros tantos senões, o
fato é que a trilogia está aí, nas mãos da mulheres no metrô, nas salas de espera e em toda parte. Sinal de que a luta de Virginia Wolf e das que
vieram depois não foi em vão. Vamos ficar atentos agora às novas vozes
femininas, brasileiras falando de sexo e desejo, com todo o charme que nos é
atribuído.
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