Todas
as famílias felizes são iguais. As infelizes, cada uma o é à sua maneira.-
Tolstoi
O
pai entrou, jogou a mochila no canto e foi direto tomar uma chuveirada. Ela,
que brincava no tapete da sala em frente à televisão, só teve tempo de dizer um
oi. Entretida com as panelinhas, nem percebeu que a mãe passou com uma pilha de
roupas dobradas. Quando a tevê anunciou a novela das sete, a mãe gritou da
cozinha que a comida estava na mesa. Jantaram em silêncio, como de hábito, depois,
só o barulho da louça sendo lavada, o revirar das folhas do jornal, os atores
murmurando clichês.
No
meio da noite a menina tem um acesso de tosse. Ambos correm acudir a filha e
notam respingos de sangue no lençol. Embrulham-na em um cobertor e vão direto
ao pronto socorro. Na sala de espera, com a criança pálida no colo, ele passa o
braço em volta dos ombros da mulher e a beija com carinho. Ela corresponde
pondo sua mão sobre a dele, sente um arrepio. Há quanto tempo não se tocavam.
Olham-se com carinho. A menina tosse, tosse, uma golfada de sangue tinge a
camiseta dele. Pedem ajuda, o médico já vai atender. Um de cada lado da cama,
velam a doentinha desfigurada. Ela será encaminhada para a UTI, acompanhantes não são permitidos. Levam-na.
Desolados,
os pais voltam para casa. Choram, se abraçam e fazem amor como há muito não
faziam.
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