25 novembro 2009

Diálogo

- Oi. Está pronta? Vamos logo por causa do trânsito.
- Você chegou cedo, que milagre!Eu estou pronta, só vou pegar um texto que escrevi para ela. Achei que precisava dizer algo na hora. Só um segundo, volto já.
- Antes, me diga onde está. Acho isso tudo muito estranho. Eu disse que preferia do jeito que todo mundo faz, mas você insistiu tanto... Ela deixou por escrito, tudo bem. Mas, até ai, vamos combinar que agora ela não apita mais nada, não é? Topei fazer isso só vou porque você me pediu.
- Está ali, ó, na estante. Eu não sabia onde por. Pedi uma urna simples porque vou jogar fora depois. Você pode pegar, para ir adiantando, e colocar dentro daquela caixa de caixa de papelão. No carro, a gente coloca no banco de trás. Acho melhor no chão, assim não cai. O que você acha? Levo no colo?
- Sei lá. Estou com medo de pegar, espero você descer.
- Vamos? Cadê a urna?
- Coloquei na caixa e já esta no carro, no chão, atrás. Eu senti uma coisa estranha, uma dor no estômago. Parecia que eu estava cometendo um sacrilégio. Eu baixei aquela música que ela gostava Miss Sally’s Blues, lembra? Ela vivia cantarolando, fez a gente assistir aquele filme triste pra caramba e todo mundo chorou. Achei que tinha a ver. Sei lá. Também achei que precisava levar alguma coisa.
- Gostei.
- Até que é uma boa pegar a estrada no meio da semana. Viemos tão rápido que eu nem senti. Vá olhando as placas, a sinalização aqui é horrível.
- Entra ali. São Vicente, Praias, Ponte Pênsil.
- Vou estacionar aqui.
- Nossa! Que lugar incrível. Ela dizia que vinha sempre aqui quando era pequena. Contava uma história de uma menina que tinha fugido de casa, atravessado a ponte correndo, com tamanquinhos de madeira e caído no mar. Morreu afogada, mas sua alma ainda perambula pela ponte. Quando as pessoas passam de carro ouvem esse barulho das tábuas são soltas e dizem que são os tamanquinhos da menina.
- Acho que aqui está bom porque o vendo está vindo de lá. Senão vem tudo em cima da gente.
- Não quero ler o que eu escrevi. Acabou. Agora nós somos a linha de frente.
- Abre logo, vamos jogar as cinzas antes que eu desmaie. Estou me sentindo mal.
- Putz! O vento virou!

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