20 agosto 2015

Era sempre assim. Desde os tempos do grupo escolar. Cada uma tinha personalidade, constituição física e um temperamentos diferente. A ditadura da moda era cabelo liso e comprido e as cacheadas que se lascassem fazendo touca e passando o cabelo a ferro entre finas folhas de papel de seda. 

Estudavam e se divertiam juntas com uma liberdade que já não existe mais. Brincar na rua, andar de ônibus, acampar, cabular aula para ir ao cinema.

Como um leque de renda que se abre, o destino as espalhou. Depois o leque se fechou e as trouxe de volta.

Em volta da mesa, vinho, whisky, coca-cola e muito assunto, papo-super-cabeça. Olhando para elas eu via um videoclipe diferente projetado em cada parede, um de cada vez, de acordo com a história, e a minha própria história se passava atrás de mim, mas eu também podia ver o que elas viam. 

Era tanta vida que dava para falar da morte, essa certeza que não as assusta.

O tempo foi generoso com elas e, as cicatrizes, quase todas, já sararam, quase não deixaram marcas. As perdas, cruéis muitas vezes, trouxeram mais sabedoria e elas continuam sempre alertas para o que der e vier.

Riram, cantaram, quase choraram e, em volta da mesa estava todo mundo lá: pais, mães, irmãos, filhos, amores, avós, bisavós, tataravós, e eu sabia que tinham vindo de tantos lugares, e dizia pra mim mesma eu sou meu pai, minha mãe, meus avós, bisavós, tataravós. Eu sou meus filhos e netos. Eu sou e sempre serei.

Chorei por dentro, serena, amada, compreendida, no meio daquele ninho de águia que sempre nos acolhe, regado a vinho, whisky e coca-cola, cheio de um maná fofo e nutritivo que se chama amizade.

Era sempre assim, cada uma com sua personalidade, sem máscaras. Elas simplesmente eram.

E sempre serão.