21 novembro 2014

Gente...juro...tem uma jaqueira na av. Brigadeiro Luiz Antonio!

Olha só que lindona!


Olha só que linda! A gente está acostumada a olhar pra frente, ou para o chão, mais para o chão porque, vamos combinar, as calçadas são um horror. Mas, outro dia olhei para a árvore, não sei por que razão, e lá estavam a jacas.
Não gosto de jaca, para dizer a verdade comi uma vez, em Niterói, fruta estranha...Só que não dá para não ficar feliz ao se deparar com uma jaca bem do lado da faixa do ônibus.
Quem sobe a Brigadeiro em direção ao centro da cidade, do lado direito, ou seja do lado ímpar, um pouco antes de chegar à Alameda Santos, pode apreciar  o fenômeno... Amazing!

Jacas e mais jacas...

17 novembro 2014

Primeiro dia no clube...

Chamei os anjos, pedi que me acordassem cedo, me enchi de boa vontade e fui, pela primeira vez, fazer exercício no clube. Dia maravilhoso, céu azul, ventinho frio. Na secretaria, uma menina bonitinha, bem arrumada e de uniforme, maquiada, rabo de cavalo impecável, vem me atender. Cada pergunta que eu fazia ela ia lá dentro confirmar...

--Você é nova?
-- Sim,-- diz ela sorrindo -- estou aqui já tem um mês!
-- Ah...-- disse eu pensando que, em um mês, já dava pra saber alguma coisa.

Enfim, segui as instruções dela e não deu nada certo. Caminhei e alonguei mesmo assim, dei uma volta e, antes de sair, passei pela secretaria de novo.

-- Oi. Olha não encontrei ninguém onde você falou, fiquei meio perdida, mas vou voltar amanhã e tentar de novo, ok? Você tem um mapa do clube?
-- Acho....que... não. Deixo ver -- ( deixo ver mesmo...) e andava de um lado para o outro procurando algo que ela sabia que não tinha.
-- Tudo bem, não se preocupe, aos poucos vou aprendendo. Mas, no caso, quando eu estiver pelo clube, quem poderia me ajudar?
-- Uzapôio...
-- É? Uzapôio? E onde fica?-- num primeiro momento achei que não tinha ouvido direito.
-- Uzapôio?
-- É... Eles fica pelo clube de terno preto...
-- Ah...Obrigada.

Uzapôio, de terno preto e crachá...Falo com eles amanhã.

02 setembro 2014

Buffet Infantil

O vitrô do meu banheiro dá para os fundos de um casarão que foi transformado em Buffet Infantil. Me parece que é uma rede com atrações incríveis para as crianças: trenzinhos aéreos, paredes a serem escaladas, árvores de mentira, tirolezas, piscina de bolinhas coloridas, e o resto que todo mundo já sabe...

Não posso deixar de ouvir o que rola nas festinhas, muitas, ultimamente, na hora do almoço. Aqui trabalhando, às vezes me desligo do barulho, mas no quesito gritaria não posso deixar de me irritar. O animador da festa grita no microfone, a música da Xuxa é alta. Então? O que as crianças fazem? Gritam muito mais. Gritam selvagemente, como pequenos aborígenes em guerra. Não ouço risadas, palmas,cantigas ou parlendas, enfim barulho normal de crianças brincando...só gritos. Sou antiga, muito mais do que achava que era.

Que essas crianças vão ser surdas, a gente já sabe; que serão adolescentes até os 32 anos, também. Se terão um emprego, uma família, filhos? Não sei. Tablets, celulares e tênis luminosos elas já tem. Televisão de última geração, tv a cabo com todos os canais possíveis, também. Computador? Claro, um só para ela, no quarto. Lancheiras em formatos mil, mochilas com rodinhas e inúmeros adereços e funcionalidades, mãe que leva, mãe que busca ( às vezes motorista, o melhor amigo)... de carro. Aula de inglês, mandarin, ballet, tênis, natação, violão, guitarra, piano, já têm desde bebês - para socializarem. Animais de estimação, pode-se se dizer que são seus irmãozinhos que também têm muitas atividades - para socializarem.

O que eu sei que elas NÃO terão é infância.

O que uma horda de crianças gritando faz a gente pensar...

20 agosto 2014

DESONRA - J.M. COETZEE- CIA DAS LETRAS 2000


John Maxwell Coetzee nasceu na Cidade do Cabo no dia 9 de fevereiro de 1940 onde estudou até completar bacharelado em língua inglesa e em matemática. De 1962 a 1965 morou na Ingleterra trabalhando com informática e preparando uma tese sobre o novelista inglês Ford Madox Ford. Em 1968, Coetzee completou  doutoramento em linguística das línguas germânicas na Universidade do Texas, em Austin. Entre 1968 e 1971 foi professor de inglês na Universidade do Estado de Nova Iorque, em Buffalo. Depois de lhe ser negado o direito de residência permanente nos EUA, regressou à África do Sul onde ensinou na Universidade da Cidade do Cabo, até 2000. Em 2002, ele emigrou para a Austrália e ensina na Universidade de Adelaide. Coetzee recebeu vários prêmios antes do Nobel em 2003 e o Booker Prize por duas vezes: primeiro por Life & Times of Michael K em 1983 e por Disgrace, em 1999.
Numa impecável tradução de José Rubens Siqueira, o livro Desonra - Disgrace  - foi sucesso de público e crítica, publicado em mais de vinte países. A tradução do título pode ser considerada apropriada, apesar das controvérsias. Em inglês disgrace tem um sentido de perda de honra, de respeito e de reputação; em português, desgraça tem um sentido de perda da graça, da fortuna, de miséria num sentido material, portanto, nesse caso, a solução encontrada está adequada ao tema que rege a trama.
Desonra conta a história de David Lurie, um aguado professor de literatura que não sente nenhuma motivação para dar suas aulas e passa isso aos alunos com seu modo indiferente e distante.  Interessante que o autor descreve uma das aulas maçantes, logo no início do livro, e  o verbo ‘usurpar’ aparece em destaque por primeira vez. Depois,  torna a aparecer sutilmente no decorrer da narrativa identificando as intenções dos personagens em suas relações. Obcecado por Byron e seu grupo, passa bastante tempo na biblioteca fazendo pesquisas para um trabalho que está desenvolvendo. Talvez essa identificação com o poeta britânico esteja no desencanto com a vida e na tendência depressiva do personagem.  
O professor se sente muito confortável em visitar uma prostituta uma vez por semana, como se a exclusividade e a periodicidade lhe dessem segurança, porém não hesita em persegui-la, como um predador, quando não mais a tem.
O que ainda lhe dá emoção na pacata vida acadêmica é a busca da libido. Vive perscrutando o campus em busca de alguma imagem feminina e frágil que lhe desperte o desejo.  Então, como raposa velha, sai à caça implacável até conseguir o que quer. Ele acha que se apaixona pelo belo, e que não pode viver sem essa sensação.
Assim acontece com Melanie Isaacs, uma de suas alunas aparentemente também desmotivada com sua vida universitária e com um namorado inexpressivo. Ela sede ao assédio do professor, talvez pela insistência dele ou por, de certa forma, se sentir lisonjeada pelo interesse do mestre. Talvez pressionada pelo namorado, ou pelos pais, muda de atitude e o processa.
Lurie é exonerado e vai para o lado leste da África do Sul ficar com a filha Lucy, que mora em uma fazenda. A filha tem uma relação distante e nem o chama de pai, o chama pelo nome. Diz a ele que pode ficar por quanto tempo quiser e pelo motivo que tiver.
Tendo como cenário árido essa terra seca e pobre, as conseqüências sociopolíticas depois do Appartaid de 1994 se manifestam na relação ainda estremecida na luta pela terra entre brancos e negros e ainda entre as diferenças culturais entre as raças.
Uma noite, três negros invadem a fazenda e Lucy é violentada. O pai, inconformado e cheio de culpa por não ter feito nada para impedir o estupro,  discute  inúmeras vezes com a filha por ela não quer ir à polícia e nem querer que saibam o que aconteceu.
O vizinho  Petrus é um estranho personagem que representa essa nova Àfrica do Sul. Sorrateiro e aproveitador, que se faz de desentendido para ir, aos poucos, usurpando as terras de Lucy. Lucy procura se adaptar e buscar a melhor maneira de viver naquelas terras ás quais sente apego e que não pretende deixar nunca.
Para ocupar o tempo, David é voluntário numa clínica veterinária gerenciada por um casal, onde cães são sacrificados. O abatido professor acaba tendo relações esporádicas com a mulher, que foge completamente aos padrões físicos aos quais ele se sente atraído. O sexo é cru, acontece na clínica, num cenário mórbido.
O livro é instigante, chocante, e ao mesmo tempo humano, com todas as fraquezas e incertezas dos personagens masculinos, com exceção de Petrus que sabe exatamente onde quer chegar. Os personagens femininos são mais marcantes: Lucy, que se impõe perante o pai e assume sua sexualidade, suas ideias políticas e morais;  a dona da clínica, que decide o destino dos miseráveis cães e assume sua libido;  a mulher de Petrus, aparentemente submissa, mas que tem convicção de sua cultura e do que é melhor para a família. Melanie, no entanto, é  representação de um caráter fraco e influenciável de menina branca, universitária bem nascida em ambiente  elitista e racista.
Tudo no livro é muito duro, bizarro e desolador. Ao escrever sobre a obra, senti uma tristeza ainda maior do que quando a li, como se tivesse de passar novamente por grandes sofrimentos, por uma angústia existencial e conflitante.
Poligamia, estupro, posse de terras, protecionismo e vários tipos de preconceito regem a intrigante história.  Coetzee escreve de maneira direta, enxuta, faz cortes abuptos e perfeitos. Não enfeita, não enrola. Tece a trama com conhecimento de causa, de modo tão leve que o leitor não sente que está lendo e sim vivendo o que o autor quer que o leitor viva.
Coetzee tem algo de Phillip Roth na maneira direta de escrever, mas, principalmente por fundir autor, leitor e personagens.  O primeiro, mais frio e depressivo, o segundo mais emotivo e passional, ambos mergulhadores na alma humana, pescadores dos sentimentos mais profundos e obscuros. O leitor é capturado, abduzido, sem escapatória começa a se sentir parte da história
Apesar de entender que o personagem do professor fala várias línguas, portanto o fato se justifica, fiquei bastante irritada com as palavras estrangeiras, não pude identificar todos os idiomas, o que achei pernóstico. Acredito que a intenção de Coetzee fosse demonstrar a diversidade cultural do ambiente, mesmo assim me incomodou. A idade do protagonista, que se diz com cinqüenta e dois anos, me pareceu inverossímil. David Lurie tem pensamentos e atitudes de homem mais velho, mais próximo da morte.
A capa do livro da edição cedida pela Cia das Letras é inexpressiva. Não havia percebido que a palavra desonra estava no projeto gráfico, achei que era apenas um desenho geométrico.
Para concluir, Desonra é um livro imperdível, maduro, pesado e ao mesmo tempo sensacional.


FLORES ARTIFICIAIS


Luiz Ruffato lança em 2007 “De mim já nem se lembra”, e em 2009 “Estive em Lisboa e lembrei de você”. Por perceber a capacidade do autor em organizar coletâneas, o engenheiro Dório Finetto envia suas memórias de viagens com o título “Viagens à Terra Alheia”.
Na apresentação, Ruffato faz uma crítica ao original que recebeu, com referências literárias e históricas da obra. Seleciona as mais interessantes, transforma tudo em um romance e oferece ao leitor “Flores Artificiais.”
A imagem que fica não é a da capa,  muito menos a das flores mas, sim, das bonequinhas russas, as Matryoshkas, geralmente vêm sete, umas dentro das outras, o mesmo número de contos apresentados no livro.

Sendo assim, com uma história dentro da outra, Ruffato reescreve o que Finetto relata sobre esses anti-heróis, dentro do contexto do conto contemporâneo, tão humanos e vulneráveis, que são os protagonistas, não excluindo o próprio Ruffato, nem Finetto. Neles nos espelhamos. Talvez pela simplicidade, talvez pela maneira de apresentar  ou a multiplicidade de nacionalidades e locais, o livro é cativante, profundo, intrigante.

19 agosto 2014

O MENDIGO QUE SABIA DE COR OS ADÁGIOS DE ERASMO DE ROTHERDAN - EVANDRO AFONSO FERREIRA

Jardim Alheiro -

Entre os mendigos bêbados da cidade, todos sem nome e sem esperança, destaca-se um pobre desvairado que, esse sim, tem a esperança de reencontrar sua amada. Imprime N em toda a parte da cidade, até no seu próprio corpo, tendo certeza de que, ao identificar a primeira letra de seu nome, ela correrá para seus braços.

Parágrafo único, texto impecável e uma característica fundamental do que eu considero ser boa literatura: a capacidade de conquistar o leitor desde a primeira linha. De fato, fui capturada pelo mendigo, pela amada que não vem, pelos personagens, pelo cenário miserável do submundo da grande cidade.
Conhecido por seu amor incondicional à sonoridade e beleza das palavras, Evandro, na pele do mendigo, recita monólogos com interlocutor anônimo a quem chama de senhor, repete um A-hã, como se pontuasse as pausas para o mendigo poder pensar no que dizer.  Cria mantras inusitados como “ ela virá eu sei”, ou “ oi, meu amado, voltei”, inventa “trouxe-mouxes”, traz a fedentina e o cheiro de alecrim aos narizes, toca os ouvidos com palavras-acordes como “farandolagem”, “parlapatice”, “escâncaras”, “escangalhar-se”, “fogo-fátuo” além de anjos que cantarolam My Funny Valentine.

“O mendigo que sabia de cor os adágios de Erasmo de Rotterdam” conta uma história que acontece a um metro e meio do chão. Não há céu, não há nada acima das cabeças maltrapilhas, a não ser a indiferença e a repugnância dos mais privilegiados. A mulher-molusgo, o menino-borboleta, o maltrapilho alcoólatra de rosto intumescido passaram a fazer parte da minha rotina enquanto lia o livro.
Pesquisei sobre Erasmo – “primeiro humanista a ganhar a vida com o que escrevia” - localizei-o na história, lembrei-me de um dia ter estudado latim, quis entender mais sobre Sócrates e descobrir um Lutero diferente do que eu conhecia nas aulas de catequese. Fui escutar Boweavil blues com Bessie Smith no Youtube, procurei nos meus CDs Billy Holliday, Chat Baker, Vila Lobos. Um susto ao confirmar a relação incestuosa do menino-borboleta que, no momento de excitação incontrolável, recosta a cabeça no colo da mulher-molusco e sobre o vestido lhe morde o sexo.

Há muito tempo que eu não chorava, nem com um filme, nem com um livro, nem com a minha própria vida, pois a maturidade nos dá certa imunidade, além da certeza de já ter visto muito, de quase tudo. Entretanto, ao final do livro, quando o maltrapilho alcoólatra de rosto intumescido morre,  os outros mendigos lhe prestam homenagem: cantam, dançam cambaleiam no ‘réquiem dos desvalidos’ nas palavras do autor chorei sentido. Mais um que é “jogado prematuramente no barco de Caronte” e a mulher-molusgo faz o sinal da cruz quando chega o camburão para levar o defunto. A degradação do ser humano, a profunda tristeza e a beleza em meio toda miséria – isso muito me comoveu e ainda comove.

Irritantemente modesto, provocativamente sincero, esse é Evandro Affonso Ferreira, o escritor que me inspira por sua sensibilidade e absoluto domínio das palavras. Dizer mais seria retundante – para usar uma palavra sonora bem ao gosto do autor.

18 agosto 2014

AS MINIATURAS – ANDREA DEL FUEGO – COMPANHIA DAS LETRAS 2013


Jardim Alheio

Em Os Malaquias, a jovem escritora Andrea Del Fuego faz uma bela homenagem aos seus antepassados e ganha o Prêmio Saramago 2011. Conta a história dos seus bisavôs, que morreram atingidos por um raio deixando órfãos o avô e outros tios avós. Com narrativa emotiva, linear e encantadora a obra premiada já define o talento da autora na qualidade da trama bem construída.

Já o novo romance As Miniaturas, lançado em 2013 pela Companhia das Letras, Andrea surpreende pela criatividade. O conceito que perambula nas conversas literárias de que tudo já foi escrito perde seu rumo nas páginas do livro onde a história é contada por uma trindade: Oneiro, Mãe e Filho. Entre o urbano cru e o onírico-burocrático, a trama se desenrola no cenário de uma cidade que parece ser São Paulo. O ponto principal é o Edifício Midoro Filho, um prédio grande, com organizado e constante fluxo de pessoas que precisam sonhar - apesar de não se lembrarem de nada depois. “ O Edifício sugere o sonho usando o próprio, assim como a gramática usa a palavra para falar da frase.”  -  explica, perspicaz, a autora.
Oneiros e sonhantes encontram - se nas salas quadradas quase assépticas do estranho edifício: os primeiros como uma espécie de terapeutas dos sonhos; os outros como pessoas comuns que estão lá para sonhar.  As duas palavras - oneiros e sonhantes - causam breve estranhamento no início, mas este logo se dissolve e acaba estabelecendo credibilidade dentro de um sistema que oscila entre o real e o imaginário. Os estímulos para o processo de sonhar, apresentado pelos oneiros, são “miniaturas  escuras, com brilho de plástico novo”, devidamente catalogadas e que podem ser um dinossauro, um rato ou um chapéu de Napoleão.
“ Quando os olhos dão cambalhotas debaixo da pálpebra, é sinal de que o sonhante está apto, vendo sistemas solares, invadindo a Rússia, emagrecendo a mãe, perdoando cães, dando palestra em Mônaco. Vou além das miniaturas, embora eu não assista palestra e nem saiba onde fica a Rússia.” Essa é a voz do oneiro - soprada por Andrea – que depois explica sua metodologia para crianças, adolescentes, adultos e anciãos.

Um oneiro conceituado deve ser muito bem treinado, deve seguir procedimentos e saber interpretar os sonhos. As leis são claras: não é permitido a um oneiro atender duas pessoas que sejam parentes. O que narra história se dá conta, um dia, que atendia a mãe e filho, e fica obcecado pelos dois. Sofre consequências dentro do rígido sistema do edifício.
A mãe cuja narrativa arrasta o leitor para dentro de seus pensamentos, é motorista de taxi e luta para criar sozinha o filho adolescente. O filho é frentista em um posto de gasolina e sabe que a única maneira de silenciar a mãe é obedecer.

Outros personagens aparecem, como o gerente do posto – ex-amante da mãe  –  , a jovem esposa e seu bebezinho, uma vidente, que a mãe consulta para tirar dúvidas sobre a sexualidade do filho. Já o oneiro, que atende mãe e filho, recorre a uma “vidanta” do Edifício Midoro Filho para enxergar com mais clareza o próprio trabalho. O humor aparece em alguns momentos, na dose certa, como na descrição das fotos de capa do Algodão, publicação interna que circula no Edifício.  “ Na capa de agosto puseram um camelo com deficiência visual, usava um óculos para não impressionar os leitores com os buracos no focinho.” [...] “na capa de abril era uma borboleta idosa com falha nas asas.” Divertido
Andrea diz em entrevista que aplaude os escritores Ivana Arruda Leite e Marcelino Freire. Com eles tem também, segundo ela, o privilégio de compartilhar trabalhos. Diz também que, dos clássicos, “ouve” William Faulkner, Nabokov, Stendhal, Kafka, Melville e Machado de Assis. Concluo que desse amálgama precioso a autora tira a prata cristalizada e a transforma em maneira peculiar de colocar ideias e palavras no papel, e estas fluem como uma voz suave e resoluta a seduzir o leitor.

A realidade urbana e as pessoas comuns, oneiros e sonhantes,  videntes e vidantas se entrelaçam com jogo do bicho, tarot, interpretação dos sonhos e outros misticismos, trazem a mensagem: “se o sujeito que comanda os sonhos não é capaz de prever nada, os sonhos também não são.”
Além dos personagens tão bem estruturados que parecem com pessoas que encontramos a todo o momento na cidade grande, o próprio Edifício Midoro Filho é um personagem com corpo – estrutura física, as salas os corredores  –  e alma  –  com conceitos rígidos e mistérios. O taxi vem a ser a segunda pele da mãe, o posto de gasolina, uma arena onde de tudo acontece, a Kombi que vende comida, tem jogo do bicho e expõe fotografias, a segunda Kombi  –  sonho de consumo  – e até máquina fotográfica do filho têm tanta importância quanto as pessoas. Todos esses elementos, mais a fluidez do texto e a dinâmica de 3 narradores ajudam a constituir o organismo independente, inteligente e autossuficiente que é o brilhante As Miniaturas.



17 agosto 2014

CIRCULAR - PAULO HENRIQUES BRITTO

Jardim Alheio

tradução literal do poema - Não é a primeira vez que, em algum lugar, alguém está pensando a mesma coisa que você está prestes a dizer. Originalidade não tem vez neste mundo, nem neste tempo, nem neste lugar. Mesmo que você faça alguma coisa, nada vai mudar. É perda de tempo. É perda de tempo dizer qualquer coisa, mesmo parecendo que desta vez vai valer a pena. Não caia nessa porque é sempre a mesma coisa. Tanto faz tentar dizer coisas que fazem sentido, ou simplesmente se contradizer. Melhor não dizer mais nada, em vez de ficar o tempo todo aborrecendo as pessoas, sem sair do lugar, dizendo as mesmas coisas sem importância, como faz esse poema. Talvez esse poema diga coisas sem importância, talvez não diga e isso que acabei de dizer tenha sim importância.

No poema “Circular” Paulo Henriques Britto faz um verdadeiro “sudoku” com as palavras criando um quebra cabeça que exige raciocínio e lógica. Apesar de ser aparentemente simples, o poema é intrigante e, de certa forma, hipnótico, pela forma e pelo conteúdo. O  título já propõe um movimento que poderia ser interpretado como o ciclo da vida onde a natureza se repete, e as pessoas, sem perceber, também se repetem em palavras, o tempo todo. Aborrecem os outros com esse vício tão humano de querer chamar atenção para si, de querer exibir suas ideias aparentemente inteligentes e elaboradas, quando não passam de mesmices. Ao pensar que tudo já foi dito, o melhor é se calar, diz o poeta, porque seu próprio poema pode não ter a menor importância e ser mais um lugar comum, ou não.

De fato, o poema “Circular” nos faz pensar, primeiro, se não estamos apenas repetindo o que ouvimos por aí e aborrecendo os outros com palavras sem valor. Segundo, nos leva à reflexão se o próprio poema tem importância, ou não. Em uma análise reflexiva, porém, percebe-se que a originalidade está justamente na mensagem que nos alerta para esse movimento circular de pessoas se repetindo. Geralmente, quando entramos num círculo vicioso, não nos damos conta de que estamos presos nele. Perceber esse fato já pode ser meio caminho andado para sairmos dessa roda de “repetidores” e darmos o primeiro passo iniciando o caminho que decidimos, nós mesmos, desenhar e seguir.
O poema de Britto é direto, incisivo, moderno, de rima peculiar. Tem uma clareza quase assustadora, ao mesmo tempo instiga o pensamento. A repetição das palavras, no final de cada verso decassílabo e alternando-se harmoniosamente ao longo do corpo do poema, pode passar despercebida aos olhos menos treinados ou viciados em alguma mania “circular” que não permita que enxerguem ou sintam a engenhosidade e beleza do poema.
“Para entender o tradutor como poeta tentei “traduzir” seu poema e seguir sua teoria de “ não teoria”, ou seja, mergulhei na prática e, aos poucos, fui entrando na sua essência (espero). Como leitora, recebi cada descoberta de braços abertos e a mensagem já ficou gravada, creio que para sempre.


Tradutor profissional tanto nas direções inglês - português como português - inglês,  poeta e ensaísta, Paulo Henriques Britto atua como professor nas áreas de tradução, criação literária e literatura brasileira na PUC-Rio, que lhe concedeu em 2002 o título de Notório Saber. Já traduziu centenas de livros, tendo como suas principais traduções obras de Faulkner (2004), Byron (1989, reed. 2003), Bishop (2001), DeLillo (1999), Pynchon (1998), James (1994) e Stevens (1987). Prestigiado pelo seu trabalho não apenas como tradutor mas também como escritor, foi contemplado com vários prêmios, mais recentemente com Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira, pela obra Macau, concedido pela Portugal Telecom, 9 de novembro de 2004 e Prêmio Alceu Amoroso Lima - Poesia 2004, pela mesma obra, concedido pelo Centro Alceu Amoroso Lima Para a Liberdade e a Universidade Candido Mendes, 9 de dezembro de 2004.

07 agosto 2014

CONTRACORRENTE - FREDERICO BARBOSA

JARDIM ALHEIRO – 
Livro: “Contracorrente”, Frederico Barbosa - Editora Iluminuras Ltda – 2000.
Tomo por princípio o ponto de vista do leitor que, por primeira vez mergulha na poesia de Frederico Barbosa. No belo projeto gráfico de Carlos Fernando, o volume apresenta agradável tamanho de 14,0cm X 18,5cm, 64 páginas de um papel de ótima qualidade, na cor ocre, com fonte moderna e de fácil leitura, na cor preta e em negrito. Ao abrir a orelha, a surpresa de um marcador de livros a ser destacado. Na apresentação, o autor diz que a missão do artista é buscar novos caminhos, sem nunca retroceder ou ceder.  Sua busca na poesia, já deixa claro desde o início, é  focar na invenção e no rigor. Sua “Contracorrente” se propõe a ser “uma luz, ou uma pedrada que incomode os acomodados de todos os lados”.  Intrigante.

A capa realça uma reprodução da litografia “ Square of Three: Black and Yellow” de Reginald Neal – 1964, que traz associação imediata à década de 60 - marcada por um sabor de inocência e até de lirismo nas manifestações sócio-culturais e, no âmbito da política, o evidente idealismo e entusiasmo no espírito de transformar o mundo  -  em contrapartida ao rígido moralismo da década anterior.

O Poeta pernambucano nascido em Recife no ano de 1961, filho do crítico literário e professor João Alexandre Barbosa e da professora Ana Mae Barbosa, sem dúvida sofreu influência da controvertida década que teve como mote derrubar muralhas sócio-culturais e morais. Diretor da Casa das Rosas, educador e comunicador inquestionável, define-se também orador competente. Como poeta, supera-se!
 “ Contracorrente” tem posfácio de Antonio Risério que parte do princípio que os adeptos à idéia de que para ser poeta é preciso não saber o que é um poema - alguns chegando ao exagero de afirmar que o poeta deve ser, de preferência, analfabeto - estão equivocados. Segundo o escritor e antropólogo, Frederico dá seu recado sem paparicar ninguém, o faz simplesmente porque sabe escrever sem medo de assumir a herança que recebeu de mestres como João Cabral de Melo Neto e Augusto de Campos.  Na contracapa, o respeitado crítico literário Antonio Candido define o poeta “plenamente integrado na sua personalidade poética” e que seu lugar é entre os verdadeiros poetas de sua geração.

Que mais se poderia dizer? Os mais importantes críticos são unânimes ao ressaltar a estirpe do poeta, seu talento, sua ousadia, seu cuidado excessivo com cada palavra, sua preocupação com a estética, seu estilo contraventor. Não se pode deixar de falar de sua sensibilidade ao capturar imagens do cotidiano de uma grande cidade, o erotismo dos apaixonados, as trevas da depressão dos mais sensíveis.
Para expressar o impacto que a poesia de Frederico Barbosa causou, vou usar o recurso de uma ótica psicanalítica confessando que ao ler “ Contracorrente” pude visualizar uma disciplinada bailarina clássica que ensaia horas a fio aperfeiçoando a técnica e, quando se supera, perfeita e transpirando música pelos poros, domina o palco em movimentos modernos e ousados, na liberdade e amplitude de uma dança contemporânea. Talvez por censura (ou preconceito), no decorrer da leitura, vi  também a imagem masculina do músico apaixonado pelos clássicos que estuda história da música, percepção e prática instrumental, harmonia e contraponto, regência e arranjo. Pratica à exaustão, domina o instrumento para depois improvisar um jazz contemporâneo, alterando melodias e compassos.
O livro se divide em quatro partes: Recusa; Encontros Diversos; Trocados da Sorte; Na Passagem. Para comentar cada poema seria preciso mais tempo e mais aprofundamento. Todos me tocaram de alguma forma, nenhum passou em branco. Todavia, prefiro comentar as poesias de maior impacto. Como tradutora, tento “traduzir” a emoção despertada na imersão nos versos. Desexistir, por exemplo, onde o eu lírico expressa a angústia de saber que a hora de se matar já passou, é forte. Desexistir e desisitir se tornam hábito, num jogo de palavras, numa idéia de desesperança e sofrimento. Já em Diálogo com Poema Adolescente, o autor conversa com ele mesmo e compara uma época, 1979, quando nada faz sentido, e 1999 quando o que faz sentido é a morte por envenenamento de um corpo que envelhece; I, The Tempest, impressionante pela força das poucas palavras que conseguem transmitir a turbulência de uma alma jovem, com sede de viver.

Notei que Raro Cantar tem 11 sílabas métricas em todos os versos. O Raro Cantar dos raros versos hendecassilábicos. Frederico ousa! 
Jeans se traduz em imagem impactante, não dá para não pensar no erotismo que um jeans colado à pele provoca, não importa quem o vista, homem ou mulher. E leva imediatamente a Ad, o ser que admira a beleza incondicional. Sabia, Lá e Paulistana de Verão seguem a linha sensual. O concretismo de O, chama atenção pela forma, com um ponto solto no final.

Ainda nesse grupo, Memória Se vem com duplicidade e pode ser o que o leitor quiser que seja.  Foi possível visualizar uma cena completa, o prazer nas dobras e desdobras do papel ao fazer um cigarro de maconha, no gosto redondo e na língua retina ao fumar, soprar e rir, sentindo o perfume da erva.
Na terceira parte, o poeta seleciona suas impressões sobre a grande cidade: um passeio desolado pela BR-116, a dificuldade que o cidadão tem ao se deparar com a miséria ao lado do luxo, o não querer ver e a culpa, em Rabo de Fora. Chuva, ratos, prostitutas, indignação e inconformismo.
E, por fim, na última parte, o desespero e a ansiedade de ver chegar a Nova Era vêm em forma gráfica, números enormes numa contagem regressiva. O novo milênio, que já nasce ultrapassado. Já era!

Sandra Schamas 

01 agosto 2014

DOS NERVOS - RICARDO LÍSIAS

 “Dos Nervos” ( Hedra, 2004) . Um pequeno livro de  47 páginas cuja capa, irritantemente amarela,  condiz com o título e com narrativa ágil e nervosa do autor.
Duas histórias paralelas , que literalmente jamais se encontram , conduzem o leitor por uma estrada reta e árida onde, na paisagem à direita, vê-se uma professora de literatura sucumbir ao delírio de ver um estranho em sua casa e ouvir a voz de sua mãe repetindo sem parar que a filha deveria cuidar dos nervos.  À esquerda, a paisagem muda completamente e vai para a final de um campeonato de xadrez onde dois jogadores experientes, um mais velho e um mais novo, disputam importante título.
Na história da professora o autor escreve em primeira pessoa e usa bastante o recurso do anacoluto, quebrando frases e ajudando o leitor a entrar no desvario da personagem que a leva a um nonsense tragicômico e intrigante.  Apaixonada pelos textos do Padre Vieira, a jovem perturbada diz preferir “uma conversa civilizada e inteligente” ao sexo. Nesse conto, percebe-se claramente a familiaridade do autor com a psicanálise por sua capacidade de expressar tão bem essa neurose contemporânea que coloca a intelectualidade acima das relações amorosas e/ou familiares, além do eterno conflito entre mães controladoras e filhas eternas adolescentes.
O  nervosismo contido  dos enxadristas  e a moça que sofre dos nervos podem ser o fio condutor. Para quem não é jogador de xadrez, não fica muito  fácil perceber a emoção do jogo por causa do vocabulário específico. No capítulo Seis, quando entra pela primeira vez a narrativa do conto , a palavra zugzwang  leva os não iniciados à pesquisa (é um termo de origem germânica  que  pode significar um  impasse ou até mesmo a derrota). Logo a seguir, no capítulo Sete, o primeiro parágrafo faz uma apresentação detalhada dos jogadores  e exige uma segunda ( ou até terceira) leitura:

“ [Segundo os árbitros de federação, Ki sentou-se ao tabuleiro com cinco minutos de atraso. O grande mestre não cumprimentou ninguém... ] [ ...O oponente não chegou a se surpreender... ] [...Já há alguns anos vários comentaristas vinham dizendo que apenas Ki poderia ameaçar a sua posição de campeão do mundo. ..]  [...o campeão avançou igualmente o peão até e5  e abriu espaço para que os comentaristas no salão ao lado previssem que a abertura seria uma Ruy Lopez sem novidades até perto do vigésimo lance. Todo mundo sabia que o campeão, cujo azar atribuía as peças pretas logo na primeira partida, não arriscaria uma Siciliana, maior especialidade de Ki. “
Entende-se que Ki é o grande mestre, quinze anos mais novo  que seu oponente  Ka, o campeão do mundo.  Pelo raciocínio mais comum , o grande mestre deveria ser o mais velho e o campeão talvez o mais novo, no entanto, o que acontece é justamente o contrário. Lísias revela que se inspirou em Kasparov, o maior campeão de xadrez de todos os tempos, e Kraminik, grande mestre, de fato 13 anos mais novo que o campeão.  Observa-se a similaridade nos nomes – Ke e Ka –  bem como nos títulos, confundindo um pouco a compreensão.
Expressões como  “ abertura Ruy Lopez”  e “uma “Siciliana”, obrigam a mais pesquisa para entender ,  por exemplo, que a abertura Ruy López é a mais famosa, devendo o seu nome jogador espanhol do século XVI, Ruy López de Segura. E que Siciliana não é uma abertura e sim uma defesa das peças negras face ao primeiro lance do peão de rei das brancas.
Ao final do conto “Elegantemente Ki tomou-lhe o bispo e fez o campeão cobrir o xeque com a dama. Quem gosta de partidas históricas, mesmo se for um exilado político, sabe que um campeão do mundo nunca foi tão destroçado.” De fato, para quem acompanha partidas históricas deve ter sido emocionante.
Ricardo Lísias é graduado em letras, mestre em Teoria Literária e doutor em Literatura, além de tradutor de “Oliver Twist”, de Charles Dickens, terminando um trabalho iniciado por Machado de Assis.
Seus livros “Cobertor de estrelas” (Rocco, 1999),” O Capuz , “Sai a Frente” e “Vaca Brava”( Hedra 2001),  “Dos nervos” (Hedra, 2004), “Duas praças” (Globo, 2005), “Greve Contra  Guerra” ( Hedra 2005)“Anna O. e outras novelas” (Globo, 2008)- coletânea da qual “Dos Nervos” faz parte, “O livro dos mandarins” (Alfaguara, 2009), o Céu dos Suicídas ( Alfaguara 2012) são muito bem aceitos pela crítica em geral,  principalmente pelos críticos mais jovens. Seu próximo romance será sobre divórcio, inspirado em sua experiência pessoal de se divorciar após quatro meses de casamento.

Ainda na casa dos 30 anos  e com tantos livros publicados, Lísias destaca-se por ser visceral,  consciente e atento ao que lhe vai pela alma diante dos inevitáveis percalços da existência. Seu estilo sofisticadamente simples de desvendar os estranhos códigos “ dos nervos” deixa transparecer a dedicação e disciplina ao fazer, segundo ele mesmo, o que mais gosta de fazer na vida: escrever todos os dias.


11 abril 2014

Chaveco

Seis da tarde, pego o ônibus na Paulista para ir à aula. Sento logo no primeiro banco. Atrás de mim um senhor bigodudo e todo conversador. Próximo ponto. Entra uma senhora magrinha, de jeans e blusinha rosa, carteira debaixo do braço, muitas pulseiras e aneis. Maquiagem carregada, cabelo loiro preso com fivelas coloridas. Pela mão percebo que era homem, quando pede licença para sentar ao lado do senhor falante,  a voz confirma minha suspeita.

Os dois começam a conversar e falam alto: ele todo cavalheiro, ela fazendo charme, diz que adora homem de bigode, me cutuca no ombro e pergunta se eu também gosto... Respondo, rindo,  que sim. A essa altura o motorista resolve interferir e diz que homem tem que ser macho. O cobrador dá risada.

O senhor pergunta se ela sempre toma o ônibus naquele horário, diz que é aposentado como motorista, mas trabalha por ali. Ela diz que sim, e o chaveco continua... Maior clima. Quando o assunto está ficando quente ele tem que descer. Despedem-se, ele joga um beijo, ela suspira...

10 abril 2014

Esse mini conto é um lixo!

Maço de cigarros, pela metade, todo retorcido. Embalagem de pizza grande, dois pratos, dois copos, descartáveis, vários pepeis de bom-bom sonho de valsa, uma garrafa de vinho tinto. Filtro de café, casca de banana, copinho de iogurte.

Caixa de teste de gravidez, muitos lenços de papel, fotos e bilhetes picados, latinhas de cerveja, um diário com as folhas arrancadas, uma camiseta velha, um par de havaianas número 44.



12 março 2014

E a Av. Paulista, hein? Virou o quê?

Depende.

De dia é uma avenida comum, com corredor de ônibus dos dois lados. No corredor de ônibus, porém, andam ciclistas, recicladores e suas carrocinhas, caminhões de entrega, um pouco de tudo.  Na hora do almoço os profissionais passeiam lentamente para fazer a digestão, fumar e depois cuspir chicletes, que viram aquelas manchas pretas, quase cobrindo certas áreas. Calçadas de bolinhas...

De noite é albergue, só falta alguma congregação religiosa começar a distribuir sopa para o pessoal que mora por  lá. A marquise do MASP, cartão postal da cidade, ainda está sendo ocupada de graça. Logo logo vão cobrar aluguel para montar barraca.

Ás sextas feiras, geralmente tem manifestação contra qualquer coisa: escalação do time de várzea, por exemplo. Eu vi, juro que vi. Ah! E tem os bares, geralmente ao lado das farmácias, onde ficam os fumantes. Muitos bares na calçada...

Aos sábados, de manhã, é uma sucursal do Parque Ibirapuera e, quando vem caindo a tarde, começam os skatistas tirando finas inacreditáveis dos transeuntes e matando de susto velhinhas desavisadas. Tem hordas de patinadores, tão agressivos quantos os skatista,s se enfiando entre pessoas de todo tipo.

Aos domingos é um circo. Músicos, palhaços, malabaristas, bandas de rock, Elvis Presley em pessoa, uma figura de rosa com cara e voz de homem parado em frente a um fusca também rosa, sanfoneiros, saxofonistas, gente oferecendo abraços de graça, que mais? Nem sei...

Para quem não lembra, as calçadas da Paulista eram daquela pedra portuguesa que acaba com qualquer salto alto. Era só buraco. Aí, alguém (ou alguéns) conseguiu pavimentar tudo, ficar uma beleza, tipo 5a. Ave. Adiantou? Nada.
assim, de longe, está bonita...

17 fevereiro 2014

Cabelo, cabeleira
Cabeluda, descabela
Cabelo, cabeleira
Cabeluda, descabelada
Quem disse que cabelo não sente
Quem disse que cabelo
Não gosta de pente
Cabelo quando cresce é tempo
Cabelo embaraçado é vento
Cabelo vem lá de dentro
Cabelo é como pensamento
Quem pensa que cabelo é mato
Quem pensa que cabelo é pasto
Cabelo com orgulho é crina
Cilindros de espessura fina
Cabelo quer ficar prá cima
Laque, fixador, gomalina
Cabelo, cabeleira
Cabeluda, descabelada
Cabelo, cabeleira
Cabeluda, descabelada
Quem quer a força de Sansão
Quem quer a juba de leão
Cabelo pode ser cortado
Cabelo pode ser comprido
Cabelo pode ser trançado
Cabelo pode ser tingido
Aparado ou escovado
Descolorido, descabelado
Cabelo pode ser bonito
Cruzado, seco ou molhado