08 abril 2013

Calçada, calçadinha...

"Calçada , calçadinha, eu sei que não é minha, não é do rei nem da rainha!"

Uma parlenda que me veio à memória hoje de manhã enquanto caminhava.

Ficou combinado que a rua é dos carros, ou seja, dos privilegiados, ascendidos socialmente que podem e devem ter e manter um carro. Afinal, antes mesmo da casa própria, a compra do carro faz parte do pacote de felicidade, vendido em suaves prestações. Quanto maior o veículo, maior o status. Ponto pacífico.

E as calçadas? Sempre achei que era dos pedestres, esses seres inferiores que não podem ou se recusam a ter um carro por questões absurdas, como qualidade de vida, ecologia, etc. Mas estava errada. Não, a calçada não é para pedestres. É para cachorros - muitos cachorros - ciclistas esportistas, ciclistas entregadores, skatistas...que mais? Qualquer coisa que não seja gente, inclusive os carros que entram e saem de prédios, lojas, escritórios e precisam passar pelas calçadas atropelando o que estiver pela frente. Afinal eles "têm carro"! Têm pressa, têm prioridade e não podem perder tempo.

Só isso? Já estava de bom tamanho, mas não para por ai. A calçada é da prefeitura, mas a responsabilidade de cuidar, manter e obedecer normas de urbanismo é do proprietário do edifício em frente. Então começa o vale-tudo: portões com uma barriga de grade para fora para caber o carro, escadinhas impossíveis, piso escorregadio, jardinzinhos ridículos, árvores que tiram a visão de quem atravessa a rua, esgoto escorrendo limoso e fedido, bueiros abertos. Que mais? Ambulantes vendendo café e bolo, fumantes que não têm mais onde fumar e buracos, muitos, muitos buracos. Crateras, poços, muros de pedra, o que você quiser, menos um simples caminho para quem anda a pé poder passar. Só isso.