14 novembro 2012
Meia-noite no metrô
Vinte minutos antes da meia-noite, caminho sob o minhocão e entro na estação Marechal Deodoro. Não acho o bilhete único. Com medo, abro a carteira, tenho sete reais e cinquenta - o dinheiro do taxi para ida e volta foi todo na ida - reviro a bolsa, o maldito estava enfiado na divisória. Desço na Sé, tudo vazio, só seguranças de preto, formigas no buraco de açúcar. Espero o trem. Não vem. Estou do lado errado. Subo escada, desço, uma pessoa aqui, outra ali. Sé - Paraíso, pouca gente acordada. Paraíso - Brigadeiro: ninguém. Nem uma alma penada, nem na plataforma , nem no carro. Que medo. Ponteiros quase juntos, a luz fluorescente me incomoda, subo a escada e a chuva fina entra nos ossos. Um taxi parado. Está livre? Pode me levar até a Brigadeiro por sete reais e cinquenta? Dois Real não vai me deixar mais pobre. Sobe aí. Agradeci ao descer, ele em me deu boa-noite.Foda-se, cheguei.
02 novembro 2012
Textos inspirados em outros textos – 7 – Marcelino Freire
Naquela bela manhã de setembro a brisa fresca soprava leve, suave como uma pétala de rosa em botão. O astro-rei, ainda fraco e vacilante, iluminava os edifícios majestosos e imponentes que se erguiam perfilados soberanamente nas ruas da grande metrópole. Ela, em seu vestido estampado e esvoaçante, caminhava calmamente pela Av. São João absorvendo a beleza da manhã primaveril. Eram tantos sentimentos confusos, tantas emoções intensas que suas inúmeras lembranças passavam por sua mente como um filme em tecnicolor, fazendo com que seu coração, impregnado de sensibilidade, se enchesse de alegria e paz. Pensava que agora que se tornara uma mulher de verdade, talvez, quem sabe, pudesse ser completamente feliz, como sempre sonhara nos dias felizes de sua infância inocente, pura, sem malícia. Delicadamente passou as mãos nos cabelos cacheados e revoltos, abriu os braços, olhou para o céu de um azul sem fim e agradeceu por aquele momento tão especial, único, mágico. Sentiu-se como jamais se sentira antes, pois, todo o seu ser estava surpreendentemente realizado, pleno e cheio de luz!
* uma provocação - tudo que, segundo Marcelino, não se deve fazer.
24 outubro 2012
Textos inspirados em outros textos - 5 - Kafka
Acendeu um cigarro, bebericou um 12 anos black label on the rocks, aspirou uma carreira inteira de uma vez. Soltou um gemido de prazer. Mais um gole, mais uma tragada no cigarro, fumaça desenhando formas no ar. Fazia tempo. Nunca se considerou viciado em nada, mas era. Gostava, afinal a vida já era uma merda frita e, sem anestesia, se tornava insuportável. Relaxou. Pensou na viagem para Minas, nos móveis rústicos que viu, nos tótens que quase comprou. Achou bacana ter um troféu daqueles no meio da sala, para mudar um pouco, sei lá. Depois ficou com medo. Imaginou se acordasse no meio da noite para ir no banheiro e desse de cara com aquelas carrancas. Viu a sala cheia de figuras escuras, fantasmas sombrios e ameaçadores. Bad trip. Droga. Ainda achou que ficaria numa boa. Sentiu coceira no dedo indicador da mão direita, coçou, até se ferir. Ficou um buraquinho rosado, como uma picada de borrachudo. Olhou de perto. Uma coisa gelatinosa e nojenta começou a sair. Uma lesma acinzentada foi se transformando numa cobrinha esperta que logo se enroscou na sua mão. Ia dando voltas, subindo pelo braço, pescoço. Outro gole. Agora sim... Acordou nú, com um homem deitado aos seu lado. Também nú.
textos inspirados em outros textos - 4 - Arturo Bandini
Pergunte ao pó na estrada! Pergunte às árvores solitárias onde o Mojave começa. Pergunte a elas sobre Camilla Lopez, e elas sussurrarão seu nome.
Jonh Fante
Está frio. A chuva não consegue molhar e logo escurece. Não quero ir para casa, abrir a porta, acender a luz e ver que você não veio. Nem virá. Penso - é melhor assim - mas é mentira. Pensava que a solidão era horrível - também é mentira - . Ela me faz bem. Um fim de tarde cinzento, uma cidade de cimento, uma rotina sem sentido. Que tédio. Na folha em branco enfiada no rolo da velha máquina de escrever algumas palavras apenas.
21 outubro 2012
Textos inspirados em outros textos - 3 - Adriana Falcão
Ali, deitada, divagou: se fosse eu, Teria escolhido lírios. |
Morrera de repente. Fora um ataque fulminante do coração, diziam os parentes
chocados. Não choravam nem rezavam, apenas velavam o corpo da defunta, em total
silêncio.No caixão enfeitado com rosas cor de rosa, cabelos cacheados e abundantes
emolduravam o rosto. A pele transparente na testa, mal cobria as veias. Os
lábios ressecados e entreabertos davam a impressão de que a bela mulher sorria,
como se não soubesse que tinha morrido. As mãos sobre o peito seguravam um
terço.
No meio da manhã, chegou o marido
segurando a filhinha de cinco anos pelas mãos
– Pobrezinha! Não deviam ter trazido... Pode ficar traumatizada.
– Elas sempre ficam traumatizadas. Eu também fiquei, e já era moça feita! –
disse a tia avó, lembrando-se de sua mãe falecida havia mais de quarenta anos.
– Ela quis vir – disse o pai – queria entender o que acontece quando as
pessoas morrem. Eu achei melhor ver a mãe e se despedir.
Segurando a menina no colo, o pai tentava explicar o inexplicável – vida e morte.
Difícil para ele, mas ela entendeu. Olhava para a mãe com os olhos bem
arregalados, se atinha aos detalhes, olhava para as pessoas. Pediu para descer.
O pai a colocou no chão e ela saiu correndo em direção ao corredor, entrando, a
seguir, na sala ao lado, onde havia outro velório. Ficou parada na entrada,
observando e logo voltou para perto do pai.
A hora do enterro se aproximava, as pessoas iam chegando sem saber o que
dizer. Abraçavam o pai, faziam um carinho na menina agarrada às pernas dele, chegavam
perto do caixão e faziam o sinal da cruz.
Lá fora, um movimento: o carro funerário havia chegado e dois funcionários
de roupa caqui entraram com um papel na mão. Pegaram a tampa, que estava
encostada na parede, e cobriram o caixão.
–Vão levar a mamãe? Eu nunca mais vou ver ela? Quero ver de novo, quero dar
tchau para a mamãe, posso? Me segura no colo papai, quero ver.
O pai a ergueu e a abraçou com força. A menina jogou um beijo e deu adeus
com a mãozinha. Enquanto atarraxavam os parafusos ela disse:
– A mamãe me disse que gostava de lírios.
20 outubro 2012
Textos inspirados em outros textos - 2 - Tolstoy
Todas
as famílias felizes são iguais. As infelizes, cada uma o é à sua maneira.-
Tolstoi
O
pai entrou, jogou a mochila no canto e foi direto tomar uma chuveirada. Ela,
que brincava no tapete da sala em frente à televisão, só teve tempo de dizer um
oi. Entretida com as panelinhas, nem percebeu que a mãe passou com uma pilha de
roupas dobradas. Quando a tevê anunciou a novela das sete, a mãe gritou da
cozinha que a comida estava na mesa. Jantaram em silêncio, como de hábito, depois,
só o barulho da louça sendo lavada, o revirar das folhas do jornal, os atores
murmurando clichês.
No
meio da noite a menina tem um acesso de tosse. Ambos correm acudir a filha e
notam respingos de sangue no lençol. Embrulham-na em um cobertor e vão direto
ao pronto socorro. Na sala de espera, com a criança pálida no colo, ele passa o
braço em volta dos ombros da mulher e a beija com carinho. Ela corresponde
pondo sua mão sobre a dele, sente um arrepio. Há quanto tempo não se tocavam.
Olham-se com carinho. A menina tosse, tosse, uma golfada de sangue tinge a
camiseta dele. Pedem ajuda, o médico já vai atender. Um de cada lado da cama,
velam a doentinha desfigurada. Ela será encaminhada para a UTI, acompanhantes não são permitidos. Levam-na.
Desolados,
os pais voltam para casa. Choram, se abraçam e fazem amor como há muito não
faziam.
19 outubro 2012
Textos inspirados em outros textos - 1 - Che Guevara
Hay que endurecerse sin perder la ternura jamás.
“
Você está bem? Está me ouvindo? Eu quero que você saiba que estou aqui, meu
bem. As visitas são curtas e só pode entrar uma pessoa de cada vez. As crianças
ficaram lá fora. Dei graças a deus. Queria estar sozinha com você, só nós dois.
Assim. Vou fazer massagem nos seus pés, está sentindo? Você se mexeu...Olhe para
mim, fale comigo...abra os olhos... Se estiver me ouvindo, pisque. Piscou. Que
bom, que você não morreu, porque eu preciso
lhe dizer uma coisa. Piscou de
novo? Ótimo! Agora, preste atenção, eu sei que o acidente foi a caminho do
motel seu filho da puta. Está tendo um caso com a estagiária, a vagabunda que
você teve a coragem de me apresentar. Eu me matando para ser a esposa perfeita e você? Trepando com aquela
zinha todo dia na hora do almoço. Era bom, não é? Eu sei. Mas agora, quem vai
foder com sua vida agora sou eu. Mas vou foder tanto que você não vai querer
sair dessa cama nunca mais. Vou estourar os cartões de crédito, zerar as contas
conjuntas, vender o seu carro – está no meu nome, lembra? Vou inscrever você num
site de relacionamentos gay. Vou aparecer lá no seu escritório, preciso bater
um papinho com aquele seu chefe careta e contar tudo o que você me contou. Pode
piscar á vontade, viu meu bem. Amanhã eu volto para ver você.”
15 outubro 2012
Fedentina
Sapato
Ferragamo, terno Armani, gravata Hermès, pasta Louis Vuitton. O cafageste bem
vestido entra no restaurante e se posiciona numa mesa discreta. Pede a carta de
vinhos, água mineral gelada, sem gás. Pouco depois entra o outro: Rolex no
pulso, Iphone na orelha, camisa Polo laranja, vai direto à mesa discreta. Tapinhas nas costas, como velhacos amigos, sorrisos amarelentos.
Fingem
conversar, aprovam o vinho, brindam. O de camisa laranja pega a pasta Louis
Vitton, vai ao banheiro entra no cubículo e tranca a porta. Não percebe que
alguém entra no cubículo ao lado. Abaixa as calças e enche a cueca com o
propinoproduto que estava na pasta. Sai confiante e vai comer patê de fois
gras. Sobremesa-cafezinho, sai um de cada vez. O de terno espera seu carro
blindado no valet, está atrasado para a próxima reunião no gabinete. O
laranja entra num taxi, que já o esperava, segue para o aeroporto pegar o
próximo voo para Brasília. O terceiro, o que entrou no banheiro junto com o
laranja, confere no celular as fotos que acabou de tirar e as envia para os “mestres da manipulação de
marionetes”.
O de
terno é eleito, o laranja consegue um cargo excelente e o fotógrafo continua
prestando serviços sórdidos a preços módicos. O que vamos pedir hoje? Meia
calabresa meia mozarela?
03 setembro 2012
Uma janela para o mar...
Preciso ver o mar.
Sem ver o mar não posso mergulhar no meu mar interior.
Preciso ver o sol, as flores, o musgo, as pedras, a água, as marés.
Preciso ver os livros.
Os livros que já li e os que já escrevi.
Vendo o mar e vendo livros eu consigo escrever repleta de emoções e conflitos, de personagens complexos.
Preciso do meu lado imagético, criativo e amplo. Agora escrevo com ouro líquido e os textos saem iluminados. Sinto um enorme prazer.
29 junho 2012
ganhei de presente esta manhã
19 junho 2012
Sopa
Gelada e turva, lá está ela no pote de vidro.
A tampa, que também é de vidro, sua lágrimas de vapor resfriado. Ao lado, outro pote. Opaco e coberto por um prato esconde um cadáver vegetal. A porta se abre, a luz acende e a sopa lá, gelada. Turva e macilenta.
Todos os dias, durante vários dias, surge o medo da decomposição. Da má água parada, da mágoa congelada. Podridão. Novamente a porta se abre.
Os potes são retirados.
As tampas removidas.
Nojo.
Aversão.
A sopa gelada não estava estragada.
A tampa, que também é de vidro, sua lágrimas de vapor resfriado. Ao lado, outro pote. Opaco e coberto por um prato esconde um cadáver vegetal. A porta se abre, a luz acende e a sopa lá, gelada. Turva e macilenta.
Todos os dias, durante vários dias, surge o medo da decomposição. Da má água parada, da mágoa congelada. Podridão. Novamente a porta se abre.
Os potes são retirados.
As tampas removidas.
Nojo.
Aversão.
A sopa gelada não estava estragada.
05 junho 2012
Celular
Júlio. Júlio, presta atenção no que eu estou falando. Não dá
para ficar com ela, eu já expliquei, não vai dar. Eu ainda preciso dividir o
aluguel com alguém, Júlio. Não consigo pagar sozinha, como eu vou ficar com
ela? Não. Não dá. Eu sei. Eu sei que você também não pode, mas ela tem que se
virar. Sabe a Valéria? Então, elas fizeram umas pulserinhas, tipo chique, entende,
super bonitas. Daí eu falei por que você não vai vender nas lojas? Sabe o que
ela disse? Eu não tenho jeito para vender. O Alceu, sabe o Alceu? Está
precisando de recepcionista no consultório, queria uma pessoa mais
velha, mais responsável e eu pensei nela. Falei, vai lá mãe, pelo menos você
não fica sem fazer nada o dia inteiro, você ganha, ajuda ele, conhece outras
pessoas. Ela disse que não tinha jeito, de novo. Será possível que ela não tem
jeito para nada? Pô! Não dá. Não Júlio. Claro que não! Espera aí, vamos combinar, você também não quer. Fala a
verdade! Fica com ela você, comigo não dá, eu não tenho paciência. Trabalho pra
caramba.Você quer que eu decida tudo? Pensa. Estou tentando. Eu falei para ela ficar com a Leninha,
assim ela ajuda quando o nenê nascer. Sabe o que ela falou? Que não gosta da Leninha,
só atura porque é mulher do Pedro. Você acha? Não estou fazendo fofoca, Júlio,
estou só comentando. eu ia lá saber que ela não gosta da leninha? Está bem. Ok. Entendi. Mas você não vai me ajudar com
nada?Estou falando Júlio, se eu bancar o aluguel sozinha eu fico sem comer! Não é
exagero, estou fando sério. Sei. Entendi. Bom, se você e o Pedro me ajudarem, a gente
divide o aluguel em três. Ai, dá. Mas, Júlio, não é justo. Ela quer que a gente pegue ela pela mão. Você se lembra dela pegar a gente pela mão? Quando que
ela ajudou a gente, hein? Quando? Eu não me lembro. Entendi. Sei. Tudo bem.Para variar sobrou
para mim. Beijo. Tchau.
04 junho 2012
Ônibus politicamente incorreto
Hoje eu não vou abrir minha boca. Se alguma velha me perguntar se eu subo a Brigadeiro Luiz Antonio vou ficar mudo. Se algum aleijado me agradecer por parar fora do ponto vou ignorar e se algum cego pedir para vender bala não vou deixar. Vai ser assim.
Nossa, quanta mulher feia no ponto! Olha aquela japa ali! Tem perna torta e parece que levou uma panelada na cara. E a gorda? Peitão está bom! E a neguinha de chapinha, coitada. Dois viados de cabelo pintado... mereciam uma surra. Hoje está difícil. Dez horas dentro desse ônibus. Que cheiro de sovaqueira... pelamordedeus!
Quase...nossa, foi por pouco. Que louca! Só podia ser mulher, mesmo. Meteu o carrão na minha frente numa boa, falando no celular. Relógio, bolsa, óculos, tudo do camelô da 25 de Março. Conheço o tipo.
- Vai lavar roupa dona Maria! Lugar de mulher é no tanque! - dá vontade de meter o carro em cima. Rico é tudo igual, estão se lixando para os outros. O carro dela é caro, mas o meu é grande... já se viu.
Só entra estrupício. Feia, feia, gorda, baranga, cara de empregada, cara de vagabunda. Não vou mais nem olhar para o lado, só pra frente. Estou no horário, nenhum congestionamento ainda, estou na minha.
- E aí, negão! Beleza? Estou nessa linha agora. É. Vamo indo, né? Vai com deus... - Com o colega eu falo, só não falo com esse povo. Bando de pobre feio, fedido.
Nossa, quanta mulher feia no ponto! Olha aquela japa ali! Tem perna torta e parece que levou uma panelada na cara. E a gorda? Peitão está bom! E a neguinha de chapinha, coitada. Dois viados de cabelo pintado... mereciam uma surra. Hoje está difícil. Dez horas dentro desse ônibus. Que cheiro de sovaqueira... pelamordedeus!
Quase...nossa, foi por pouco. Que louca! Só podia ser mulher, mesmo. Meteu o carrão na minha frente numa boa, falando no celular. Relógio, bolsa, óculos, tudo do camelô da 25 de Março. Conheço o tipo.
- Vai lavar roupa dona Maria! Lugar de mulher é no tanque! - dá vontade de meter o carro em cima. Rico é tudo igual, estão se lixando para os outros. O carro dela é caro, mas o meu é grande... já se viu.
Só entra estrupício. Feia, feia, gorda, baranga, cara de empregada, cara de vagabunda. Não vou mais nem olhar para o lado, só pra frente. Estou no horário, nenhum congestionamento ainda, estou na minha.
- E aí, negão! Beleza? Estou nessa linha agora. É. Vamo indo, né? Vai com deus... - Com o colega eu falo, só não falo com esse povo. Bando de pobre feio, fedido.
28 maio 2012
cores favoritas
azul céu de maio à 10 horas da manhã com temperatura de 18 graus centígrados.
vermelho intenso, denso, aveludado, da cor do sangue.
marrom café espresso quente, de preferência aromático.
laranja escuro da cor do caqui maduro cortado ao meio.
verde grama bem cuidada depois da chuva de verão.
branco camélia, acetinado, imaculado e de suave perfume.
roxo desbotado, da cor do doce de batata roxa pulando na panela.
azul marinho, das águas profundas do inconsciente inexplorado e assustador.
cor-de-rosa em botão, ou desabrochada e perfumada, rosa como a bochecha de uma criança saudável.
burgundy, bordeaux, cor de vinho, de todos os vinhos tintos numa noite de inverno em boa companhia.
vermelho intenso, denso, aveludado, da cor do sangue.
marrom café espresso quente, de preferência aromático.
laranja escuro da cor do caqui maduro cortado ao meio.
verde grama bem cuidada depois da chuva de verão.
branco camélia, acetinado, imaculado e de suave perfume.
roxo desbotado, da cor do doce de batata roxa pulando na panela.
azul marinho, das águas profundas do inconsciente inexplorado e assustador.
cor-de-rosa em botão, ou desabrochada e perfumada, rosa como a bochecha de uma criança saudável.
burgundy, bordeaux, cor de vinho, de todos os vinhos tintos numa noite de inverno em boa companhia.
09 maio 2012
Novo livro de Evandro Affonso Ferreira
Novo livro de Evandro Affonso Ferreira narra a estória de homem que reflete sobre a vida após o adeus da amada
E
esta é a herança maior de uma cultura em constante desconforto: a
eleição como supraliterário de uma linguagem divorciada de qualquer
preocupação em se comunicar com um público amplo de leitores. Alçar Rosa
e Lispector, donos de estilos herméticos, como os últimos escritores
pilares nacionais, é indicativo dessa escolha da dificuldade como
termômetro de valor estético: o difícil é o válido, e nenhuma reta pode
ser guardiã de sabedoria. Mas para cada Rosa existem dezenas de Borges:
literatura que convida o leitor a uma experiência emocional e estética
sem humilhá-lo.
Evandro Affonso Ferreira é um talento literário nato. Apenas a forma com que talha sua prosa faz com que ninguém saiba realmente disso: complicado, hermético, seu estilo impede que o leitor se aproxime da força emocional de seus personagens. Mais, até: o leitor briga com seu estilo, de facão em punho, buscando a estória dentro do livro. Evandro tem o amor da crítica, algo atestado pelo seu recente prêmio da APCA.
Contudo, quem vitaliza a literatura são os leitores, e boa parte dos escritores atuais ignora essa seiva, preferindo o conforto casto dos seus pares.
O Mendigo Que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam, que será lançado hoje na Livraria da Vila do Shopping Pátio Higienópolis, alcançará um sucesso estrondoso. A estória de um homem erudito abandonado sem-cerimônia pela paixão de sua vida e que escreve uma narrativa para tentar esclarecer esse ato está tão recheada de citações e neologismos e sintaxes complexas que vai arrebatar todos os prêmios literários de prestígio. No entanto, de amor, de exploração desse sentimento de abandono, o pouco que existe está soterrado. Sentimento que motiva cada palavra do relato, está invisível pela escolha estilística do autor. O livro será um sucesso; foi escrito apenas para 43 pessoas.
O livro anterior de Evandro atesta essa escolha. Incensado, elogiado, possui uma das estórias mais intensas de amor e ódio da literatura recente. Minha Mãe se Matou sem Dizer Adeus é a desconstrução dos relatos edificantes de despedida: um homem solitário escreve, sob uma chuva infinita, um acerto de contas com seus afetos familiares embargados. Ele não aprende nada com a morte da mãe, nem com a velhice: apenas rumina seu ressentimento, o vazio em que foi criado e que aceita como seu casulo, quase seu caixão. Evandro construiu um dos mais ricos personagens da literatura brasileira recente. Apenas ninguém, infelizmente, sabe disso.
Evandro Affonso Ferreira é um talento literário nato. Apenas a forma com que talha sua prosa faz com que ninguém saiba realmente disso: complicado, hermético, seu estilo impede que o leitor se aproxime da força emocional de seus personagens. Mais, até: o leitor briga com seu estilo, de facão em punho, buscando a estória dentro do livro. Evandro tem o amor da crítica, algo atestado pelo seu recente prêmio da APCA.
Contudo, quem vitaliza a literatura são os leitores, e boa parte dos escritores atuais ignora essa seiva, preferindo o conforto casto dos seus pares.
O Mendigo Que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam, que será lançado hoje na Livraria da Vila do Shopping Pátio Higienópolis, alcançará um sucesso estrondoso. A estória de um homem erudito abandonado sem-cerimônia pela paixão de sua vida e que escreve uma narrativa para tentar esclarecer esse ato está tão recheada de citações e neologismos e sintaxes complexas que vai arrebatar todos os prêmios literários de prestígio. No entanto, de amor, de exploração desse sentimento de abandono, o pouco que existe está soterrado. Sentimento que motiva cada palavra do relato, está invisível pela escolha estilística do autor. O livro será um sucesso; foi escrito apenas para 43 pessoas.
O livro anterior de Evandro atesta essa escolha. Incensado, elogiado, possui uma das estórias mais intensas de amor e ódio da literatura recente. Minha Mãe se Matou sem Dizer Adeus é a desconstrução dos relatos edificantes de despedida: um homem solitário escreve, sob uma chuva infinita, um acerto de contas com seus afetos familiares embargados. Ele não aprende nada com a morte da mãe, nem com a velhice: apenas rumina seu ressentimento, o vazio em que foi criado e que aceita como seu casulo, quase seu caixão. Evandro construiu um dos mais ricos personagens da literatura brasileira recente. Apenas ninguém, infelizmente, sabe disso.
19 março 2012
Escrevivendo Canções
Eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar...
Naquela noite, naquela festa era tanto amor, todo tipo de amor. A turma que não se desfez, nem com as separações, nem com as mortes, foi mudando apenas, se adequando aos tempos, aos filhos crescendo à sociedade exigente e frenética. E você hein? Eu sei que você se lembra que sentia o que eu sentia, nossos olhos nunca mentiram e naquela noite, naquela festa, era tanto amor que só de lembrar passo do estado físico para o estado gasoso e acredito em eternidade.
Por toda a minha vida eu vou te amar
Em cada despedida eu vou te amar...
Naquela noite, naquela festa era tanto amor, todo tipo de amor. A turma que não se desfez, nem com as separações, nem com as mortes, foi mudando apenas, se adequando aos tempos, aos filhos crescendo à sociedade exigente e frenética. E você hein? Eu sei que você se lembra que sentia o que eu sentia, nossos olhos nunca mentiram e naquela noite, naquela festa, era tanto amor que só de lembrar passo do estado físico para o estado gasoso e acredito em eternidade.
A cada ausência sua eu chorei, sofri esperando ficar ao lado seu por
toda minha vida, morri um pouco quando você fez de conta que me esqueceu,
perdeu meu telefone e se escondeu sabe deus onde. Mas sou da turma, continuo em
mutação. Consegui abrir os braços e soltar você que agora está onde escolheu
estar. Naquela noite, naquela festa eu sabia que ia te amar por toda minha
vida.
22 fevereiro 2012
academia versus parque ibirapuera...
... parque Ibirapuera ganhou, de dez a, digamos, dois. Não vou dizer de dez a zero porque não seria justo. Tentei, juro que tentei por dois lindos anos de sacrifício, mas no final de 2011 decidi fazer o que é melhor para mim. Pergunto ao médico qual o exercício ideal e ele me diz que o exercício ideal é aquele que você faz. Valeu! Pergunto a mesma coisa ao personal que nos acompanha no parque e ele me diz que o exercício ideal é aquele que eu mais gostar. Pronto. Andar no parque é meu exercício agora. Foi durante uns anos, agora é de novo. Estou empenhada, participo do grupo Pare a Dor, faço aquecimento antes e depois, caminho naquela belezura, encho os olhos com a natureza e volto para casa feliz, cheia de energia. A esteira, os pesos e aparelhos nunca me deram essa felicidade. A professora de alongamento que não sabe o que é música instrumental e só fica se olhando no espelho não me tortura mais com sua incompetência. Pronto. Falei.
23 janeiro 2012
Assuntos
Perco tanto tempo pensando o que vale a pena ser escrito e, de repente, o assunto é sempre o mesmo - amor. E desamor. Então eu digo para alguém que tudo passa, as coisas boas e as não tão boas. Tudo passa. Dói muito, mas uma hora a dor se vai. Fica a apatia, a desesperança e elas também se vão. E a gente diz que nunca mais. E começa tudo de novo. Um documentário sobre a evolução da sexualidade, uma teoria de que quando homem e mulher começaram a copular de frente um para o outro, olho no olho, os problemas emocionais começaram. Foi há muito tempo e está tudo igual. Pior.
Maria gosta de João que diz não está num momento muito bom para relacionamento sério. Na verdade João está mesmo a fim de Patrícia que se apaixonou por Antonio que acha que é gay mas não assume que gosta de Pedro que casou por interesse com Andréa que dá para Paulo e para Márcia e que prefere não se apegar a ninguém. Tereza quer casar com José que já foi casado e não quer mais e acabou de engravidar uma menina no banheiro da balada. A mãe de Mario sai com o melhor amigo dele que mente dizendo que come a irmã, e come mesmo. As duas. O pai só trabalha, não gosta de ninguém mas paga uma fortuna a uma garota de programa que se apaixonou por outro cliente na despedida de solteiro e foi correspondida mas a noiva nunca ficou sabendo porque dá para o amigo de infância cuja mulher não gosta de sexo mas assiste filme pornô para ver o cara que ela conhece da academia onde todo mundo se mata para ter um corpo lindo e ser desejado e amado...
Maria gosta de João que diz não está num momento muito bom para relacionamento sério. Na verdade João está mesmo a fim de Patrícia que se apaixonou por Antonio que acha que é gay mas não assume que gosta de Pedro que casou por interesse com Andréa que dá para Paulo e para Márcia e que prefere não se apegar a ninguém. Tereza quer casar com José que já foi casado e não quer mais e acabou de engravidar uma menina no banheiro da balada. A mãe de Mario sai com o melhor amigo dele que mente dizendo que come a irmã, e come mesmo. As duas. O pai só trabalha, não gosta de ninguém mas paga uma fortuna a uma garota de programa que se apaixonou por outro cliente na despedida de solteiro e foi correspondida mas a noiva nunca ficou sabendo porque dá para o amigo de infância cuja mulher não gosta de sexo mas assiste filme pornô para ver o cara que ela conhece da academia onde todo mundo se mata para ter um corpo lindo e ser desejado e amado...
10 janeiro 2012
Então,
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