29 agosto 2008

O outro lado da lua

Lua cheia, é cheia de brilho, como se a luz fosse dela própria e não apenas reflexo do sol. Lua nova é o lado da sombra, o lado verdadeiro, onde estão as cinzas de tudo que ela já foi um dia.

Gostamos da lua cheia, prateada ou amarelada, alta no firmamento ou gigante no horizonte ao entardecer. Gostamos de olhar seu brilho emprestado, sem pensar de onde ele vem. Não queremos a sombra, a viagem à escuridão é incerta, não sabemos o que vamos encontrar.

Quando a lua brilha cada um vê o que quer: crateras, São Jorge montado no cavalo branco, matando o dragão, um coelho de orelhas levantadas, um enorme queijo suíço, o rosto da mulher amada. Quando a lua escurece não vemos nada até escolhermos um pequeno ponto e criarmos coragem para desvendar. Então o ponto se ilumina e o que é verdadeiro se revela. Pontinho por pontinho, vamos descobrindo o que a escuridão tem de verdadeiro para nos mostrar.

23 agosto 2008

Poema de Amor

para aquele cujo beijo me tirou o sono...

o meu caminho de volta
é em direção ao por do sol.
pego a estrada, cansada,
consumida e pálida
mas me reverencio ao por do sol.

cansada e pálida, me acalmo
e me deixo envolver pela luz
cálida...
o meu caminho de volta
é em direção `a calma...

me reverencio ao por do sol
pela luz cálida que me abraça,
pela calma
que permite a sua presença.
você !

...que com o por do sol me aquece
me envolve, me acalma
e me deixa ...ser.

sandra schamas

Primeiro Beijo

Um finíssimo fio de saliva separava nossas bocas. A dele queria mais e estava cheia de um desejo quase infantil; a minha rejeitava o que achava que deveria ter desejado. E aquele fio de saliva foi cortado com as costas da minha mão, em um gesto involuntário.
O primeiro beijo foi assim.

Os outros primeiros beijos foram acontecendo com o primeiro namoro, que evoluiu para noivado e acabou em casamento. Quando o amor acabou, tudo acabou.

Houve um luto, mas ainda havia tempo para recomeçar. E então, premeditadamente, aconteceu o primeiro beijo que me fez perder o sono. Passei a noite repetindo mentalmente cada detalhe, casa sensação, passando a ponta dos dedos na boca, fechando os olhos e sorrindo.

Como quem deseja e quer, olhei para ele pela primeira vez. Um homem bonito, olhos cinza, de raposa matreira, manifestavam a arrogância característica dos intelectuais. Trocamos olhares e, no encontro seguinte, os telefones. Sempre nos encontrávamos em um grupo de amigos, conversávamos até tarde, e eu sem saber se deveria começar. Passou um tempo, marcamos um encontro, desta vez só nós dois. Depois do cinema, estava friozinho, fomos a um bar descolado e aconchegante. Na volta, no carro, tomei coragem e o beijei.

Foram beijos no carro, no barco, no mar, no sofá, na rua, no armário, no chuveiro, na chuva. Hoje são memórias de amor.